Catar condena sugestão de deslocar à força palestinianos para Arábia Saudita e denuncia "violação do direito internacional"
O país “reafirma a total solidariedade com o Reino da Arábia Saudita” e apela à comunidade internacional para “combater firmemente este tipo de provocação”
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O Catar criticou este domingo o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, por ter sugerido deslocar à força os palestinianos da Faixa de Gaza para a Arábia Saudita, em consonância com uma proposta do Presidente norte-americano, Donald Trump.
Os comentários de Netanyahu surgiram durante uma entrevista ao Canal 14 da televisão israelita, na quarta-feira, depois de o apresentador ter confundido “Estado palestiniano” com “Estado saudita”.
Após a devida correção, Netanyahu disse, em tom de brincadeira, que uma mudança para o reino árabe “era uma ideia interessante” porque “os sauditas podem criar um Estado palestiniano no seu país, uma vez que há muito território lá”.
O Catar descreveu os comentários de Netanyahu como “declarações inflamatórias” e uma “violação flagrante do direito internacional e da Carta das Nações Unidas”.
O Catar “reafirma a total solidariedade com o Reino da Arábia Saudita” e apela à comunidade internacional para “combater firmemente este tipo de provocação”, disse a diplomacia de Doha, num comunicado citado pela agência espanhola Europa Press.
A Arábia Saudita, sem mencionar explicitamente as declarações de Netanyahu, condenou este domingo mais uma vez qualquer ideia de deslocação forçada do povo palestiniano.
Riade referiu-se a um exemplo de uma “mentalidade de ocupação extremista” que “não compreende o que a terra palestiniana significa para o povo palestiniano irmão ou a sua ligação emocional a ela”.
As autoridades sauditas garantiram a meio da semana que o reino “não estabelecerá relações diplomáticas com Israel sem o estabelecimento de um Estado palestiniano independente”.
A declaração foi feita depois de Netanyahu ter garantido, na terça-feira, em Washington, que a paz entre os dois países “não só é possível, como vai acontecer”.
Trump lançou na semana passada a ideia de os Estados Unidos reconstruírem a Faixa de Gaza, devastada há já 15 meses devido aos bombardeamentos israelitas, e fazerem do território palestiniano uma “Riviera do Médio Oriente”.
O plano, aplaudido por Netanyahu, implicaria a deslocação dos mais de dois milhões de habitantes da Faixa de Gaza para o Egito, a Jordânia e outros países, segundo Trump.
Na sequência do plano de Trump, o Egito anunciou este domingo que vai organizar uma “cimeira árabe de emergência” em 27 de fevereiro, para debater “os últimos desenvolvimentos graves” na questão palestiniana.
A cimeira foi convocada numa altura em que o Cairo reuniu apoio regional contra o plano de Trump.
A Faixa de Gaza ficou quase totalmente destruída devido à ofensiva militar israelita de grande escala que se seguiu ao ataque do Hamas contra Israel de 7 de outubro de 2023.
O conflito provocou dezenas de milhares de mortos, na grande maioria palestinianos, e os combates só foram interrompidos com uma trégua que entrou em vigor em 19 de janeiro.
O acordo prevê a troca de reféns israelitas raptados pelo Hamas em 7 de outubro por prisioneiros palestinianos detidos em Israel.
No âmbito do acordo, Israel retirou este domingo as suas tropas do corredor de Netzarim, no centro do enclave, permitindo a circulação entre o norte e o sul do território governado pelo Hamas desde 2007.