Catarina Vieira é eurodeputada portuguesa eleita nos Países Baixos e defende uma "Europa progressista e verde"
A eurodeputada portuguesa foi eleita com os votos de 32 mil holandeses, nos Países Baixos, onde reside deste 2017
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Catarina Vieira, natural de Angra do Heroísmo, Açores, foi eleita eurodeputada em 2024 pelos Países Baixos, tornando-se num dos rostos da nova geração da política europeia. Integra o grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia e assume-se como uma defensora das políticas ambientais e dos direitos humanos no Parlamento Europeu.
Entrevistada pela TSF para o programa Fontes Europeias, a eurodeputada considera que a sua eleição, num Estado-Membro diferente daquele em que nasceu, representa um avanço para a democracia europeia, onde a cidadania ultrapassa fronteiras nacionais.
Catarina Vieira conseguiu reunir 32 mil votos nas eleições nos Países Baixos, para onde se mudou em 2017, depois de completar os estudos em Lisboa e um Erasmus na República Checa. A eurodeputada atribui a conquista a “uma campanha intensa” nos Países Baixos, marcada pelo “apoio da juventude e do movimento ‘Stem op een vrouw’ (‘Vote numa mulher’)”.
O sistema eleitoral neerlandês permite que os eleitores votem num partido ou diretamente num candidato dentro do partido, o que, na interpretação da eurodeputada, acabou por beneficiar a sua candidatura, impulsionada também pelo “apelo ao aumento da representação feminina na política”.
“O grande desafio não foi apenas o facto de ser portuguesa e candidata num país estrangeiro, mas sim conseguir mobilizar eleitores em torno de uma visão progressista e ecológica para a Europa”, afirmou Catarina Vieira, que acredita que a sua eleição demonstra que a cidadania europeia “pode ser exercida plenamente”, permitindo que qualquer cidadão europeu possa candidatar-se e ser eleito em qualquer Estado-membro.
No Parlamento Europeu, Catarina Vieira integra a Subcomissão dos Direitos Humanos, onde pretende focar-se na proteção da biodiversidade, “na luta contra as alterações climáticas e na promoção dos direitos fundamentais em todo o mundo”. Entre os temas que mais a mobilizam, destaca-se a questão da caça à baleia, um tema que toca diretamente a sua história familiar.
“A minha família materna, na Ilha Graciosa, teve uma forte ligação à caça à baleia. O meu bisavô e o meu tio-avô eram caçadores de baleias, algo que fazia parte da economia local e da cultura da ilha. Hoje, felizmente, essa prática foi abolida e substituída pelo turismo sustentável de observação de cetáceos, uma atividade que também gera emprego e protege estes animais extraordinários”, explicou.
A deputada acredita que esta mudança nos Açores deve servir de exemplo para países que ainda praticam a caça à baleia, como a Islândia. “O século XXI não pode continuar a permitir a caça a baleias sob qualquer pretexto. É um atentado contra a biodiversidade e contra o clima”, defende.
Catarina Vieira é licenciada em Relações Internacionais pelo ISCSP, em Lisboa. Realizou um intercâmbio na República Checa através do Programa Erasmus e mudou-se para os Países Baixos em busca de oportunidades profissionais. Já nos Países Baixos, começou a trabalhar antes de se envolver na política.
“Um ano depois de chegar a Utrecht, houve eleições municipais”, contou a eurodeputada, lembrando que “qualquer pessoa que é da União Europeia e que está em qualquer cidade europeia pode votar nas eleições locais e, portanto, tinha pela primeira vez a possibilidade de votar nos partidos holandeses”.
“Então, fui à internet e fui ver quem é que estava, quais eram os partidos no parlamento, para depois ver a comparação de pontos ao nível local, e descobri que estavam lá 21 partidos políticos e que eu agora tinha de me encontrar politicamente no meio destes 21 e qual seria o partido que ia ter o meu voto”, contou, considerando que se tratou de “um exercício extremamente interessante”, e que “vale a pena” exercer esse direito, especialmente para “tantos portugueses na diáspora”.
Catarina Vieira divide o seu tempo entre Bruxelas, Estrasburgo e os Países Baixos, onde reside, mas regressa aos Açores “sempre que pode”.
“Tento ir pelo menos uma vez no verão e outra no Natal, mas se puder aproveito outras ocasiões especiais, como o Carnaval da Ilha Terceira, que é culturalmente espetacular, portanto, vou tentar dar um saltinho lá também”, acrescentou.