ONU tinha anunciado que Pierre Krähenbühl ficaria suspenso do cargo até à conclusão de um inquérito interno.
Corpo do artigo
O suíço Pierre Krähenbühl, comissário-geral da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA) e alvo de um inquérito interno por abuso de poder, "apresentou a demissão com efeito imediato", anunciou esta quarta-feira fonte oficial das Nações Unidas.
"O comissário-geral da UNRWA, Pierre Krähenbühl, informou o secretário-geral da sua demissão, com efeito imediato", declarou o porta-voz de António Guterres, Stéphane Dujarric, no 'briefing' diário com os 'media', referindo que a comunicação de Krähenbühl tinha ocorrido há breves momentos.
A ONU tinha anunciado esta quarta-feira à tarde que Pierre Krähenbühl ficaria suspenso do cargo até à conclusão de um inquérito interno sobre alegadas irregularidades administrativas no seio da UNRWA. Também tinha informado que o britânico Christian Saunders, nomeado em agosto passado por Guterres para o cargo de vice-comissário-geral da UNRWA, seria o novo comissário-geral interino desta agência, que presta auxílio a mais de 5,5 milhões de palestinianos em países do Médio Oriente (Jordânia, Líbano e Síria) e nos territórios da Cisjordânia e de Gaza.
A demissão de Krähenbühl surge numa altura em que a Assembleia-geral das Nações Unidas irá renovar em breve o mandato da UNRWA por mais três anos, apesar da forte oposição dos Estados Unidos, que retiraram o financiamento à agência, que consideram não ser mais adequada.
"O secretário-geral reafirma o seu apoio à UNRWA pelo excelente trabalho, essencial para o bem-estar dos refugiados palestinianos", acrescentou o porta-voz, salientando que "é vital que os Estados-Membros e outros parceiros continuem envolvidos na UNRWA e nos serviços que presta". "Também é fundamental para a comunidade internacional apoiar o trabalho vital fornecido pela agência nas áreas da saúde, educação e ajuda humanitária, uma fonte de estabilidade numa região volátil", concluiu Stéphane Dujarric.
Uma investigação interna foi aberta há vários meses após denúncias de irregularidades administrativas no seio da UNRWA. O Escritório de Serviços de Supervisão Interna da ONU (OIOS), entidade que está a investigar estas alegadas irregularidades, informou que os resultados preliminares do inquérito indicam que existem "problemas de gestão que estão relacionados especificamente com o comissário-geral [Krähenbühl]".
Nos últimos meses, o OIOS tem investigado as suspeitas levantadas, incluindo um alegado abuso de autoridade para benefício pessoal por parte dos altos cargos da UNRWA, incluindo Pierre Krähenbühl. No seguimento deste inquérito, que revelou a necessidade de fortalecer várias áreas da agência, a UNRWA declarou que a sua meta é "garantir os mais altos padrões de profissionalismo, transparência e eficiência".
Nesse sentido, a UNRWA "iniciou uma revisão interna das respetivas funções de liderança, de gestão e de prestação de contas" e "iniciou ações corretivas e irá procurar melhorar nos próximos meses", afirmou a agência.
No decorrer do inquérito, e após a divulgação de algumas conclusões preliminares, a vice-comissária Sandra Mitchell e o chefe de gabinete Hakam Shahwan renunciaram ao cargo em julho passado. Em finais de julho, um relatório elaborado pelo departamento de ética da UNRWA, e posteriormente enviado ao secretário-geral da ONU, apontava que Pierre Krähenbühle e outros cargos diretivos teriam exercido ações de "conduta inapropriada de natureza sexual, nepotismo, represálias, discriminação e outros abusos de autoridade" e que concentravam poder desde 2015.