Chegada dos militares "é vista como provocação". Portuguesa em Los Angeles relata clima de "medo"
A jornalista Ana Rita Guerra, que vive em Los Angeles há mais de uma década, relata uma noite de protestos mais calma, comparativamente aos últimos dias. A emigrante não concorda com a presença das Forças Armadas na cidade e conta que a comunidade portuguesa receia deportações
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Foi uma noite mais calma, em Los Angeles, depois de vários dias com protestos, marcados pela tensão entre manifestantes e autoridades. A portuguesa Ana Rita Guerra, que vive na cidade norte-americana há mais de uma década, adianta à TSF que foi imposto um recolher obrigatório, durante a noite, e, por isso, "a situação está mais calma, apesar de ainda existir gente na rua com bandeiras do México e de cara tapada, mas nada como nas últimas noites".
Apesar da violência que marcou os protestos contra a política anti-imigração de Donald Trump, em Los Angeles, Ana Rita Guerra sublinha que estes não são os piores protestos a que já assistiu. "Já vi [estes protestos] várias vezes, mas o mais perigosos aconteceram no verão de 2020, quando George Floyd morreu", afirma, acrescentando que, desta vez, os protestos estão concentrados numa zona geográfica bastante limitada.
A emigrante portuguesa sublinha que nunca viu situações que justificassem a intervenção da Guarda Nacional. "Parece-me que a chegada da Guarda Nacional e dos Fuzileiros, que são militares treinados para lutar em guerras e em conflitos no estrangeiro, é uma provocação e está a ser entendida dessa forma por parte dos manifestantes. Parece haver uma tentativa de provocar os manifestantes para que façam alguma coisa que depois justifique o uso de força superior àquilo que tem acontecido até agora. Eu acho esta situação perigosa", reforça Ana Rita Guerra.
Entre a comunidade portuguesa o clima tem sido de preocupação. A jornalista revela que os portugueses estão a mudar certos comportamentos com receio de serem interpolados pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras norte-americano. O medo é partilhado até mesmo por aqueles que têm a situação regularizada. "Há pessoas que estão a procurar advogados, para tentar perceber se estão em risco, porque, por exemplo, tiveram uma multa há uns anos, ou tiveram algum tipo de problema. Há pessoas que não querem viajar para Portugal agora, porque não querem passar pelo processo depois de regressar aos Estados Unidos, há estudantes com medo, que não compareceram às cerimónias de graduação, que estão a decorrer esta semana, com medo de encontrar a polícia", conta Ana Rita Guerra.
A emigrante destaca que o superintendente do Distrito Escolar de Los Angeles, o português Alberto Carvalho, foi obrigado a tomar medidas adicionais esta semana para tentar impedir que agentes interrompessem as cerimónias.