Um grupo de manifestantes encapuçados lançou 'cocktails molotov' em direção à polícia de intervenção, que respondeu com gás lacrimogéneo e jatos de água.
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Milhares de pessoas participaram este domingo num desfile para o cemitério central de Santiago, para homenagearem as vítimas da ditadura de Augusto Pinochet, a três dias do aniversário do golpe militar de 11 de setembro de 1973, que derrubou Salvador Allende.
Esta iniciativa, convocada por organizações sociais e de direitos humanos, decorre anualmente no fim de semana prévio à evocação do derrube do presidente socialista, e geralmente registam-se confrontos violentos entre grupos de manifestantes e a polícia.
O desfile deste domingo não foi exceção, com um grupo de manifestantes encapuçados a lançar 'cocktails molotov' em direção à polícia de intervenção, que respondeu com gás lacrimogéneo e jatos de água.
Em termos gerais, o desfile decorreu em ambiente pacífico, mas foi controlado durante todo o percurso por forte contingente policial, referiu a agência noticiosa Efe.
Muitos manifestantes exibiam fotos com rostos dos milhares de detidos desaparecidos durante a ditadura de Pinochet, que se prolongou até 1990. "Onde estão?", "Não esqueço, exijo justiça" ou "A impunidade de ontem é a causa das injustiças de hoje" foram outras frases exibidas em cartazes.
A busca da verdade e da justiça e o combate ao "negacionismo" da ditadura foram sublinhados por diversos responsáveis políticos e ativistas presentes, que se referiram a um país "onde estamos habituados a normalizar o esquecimento e a impunidade".
A figura de Pinochet (1915-2006) registou um inesperado protagonismo esta semana devido às polémicas declarações do Presidente brasileiro, o ultradireitista Jair Bolsonaro, que elogiou a ditadura chilena num duro ataque verbal dirigido à ex-presidente Michele Bachelet, atual alta-comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
"Senhora Bachelet, se não fosse o pessoal de Pinochet, que derrotou a esquerda em 1973, entre eles o seu pai, hoje o Chile seria uma Cuba", disse Bolsonaro em resposta a um relatório das Nações Unidos, crítico com a situação dos direitos humanos e a violência policial no Brasil.
As palavras de Bolsonaro colocaram em dificuldade o Governo de Sebastián Piñera, que mantém uma relação cordial e alguma sintonia política com o seu homólogo brasileiro, mas foi forçado a exprimir em público o seu desacordo.
Piñera admitiu que não partilha "em absoluto" a referência feita por Bolsonaro, dirigida a Bachelet, "especialmente num tema tão doloroso como a morte de seu pai", um general da Força Aérea que se opôs ao golpe de Estado e morreu numa prisão de Santiago, em março de 1974, aos 50 anos, debilitado pelas frequentes torturas.
O atual Presidente chileno evitou no entanto condenar explicitamente a alusão de Bolsonaro a Pinochet, e a sua reação foi condenada pela oposição, que a considerou demasiado frágil.