Começa hoje a ser julgada Gu Kailai, a mulher daquele que chegou a ser apontado como um dos futuros líderes do Partido Comunista da China. A advogada - famosa no país - é acusada de ter assassinado um homem de negócios, numa história com muitas sombras chinesas.
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O corpo do empresário inglês Neil Heywood foi encontrado em novembro do ano passado num hotel de Chongquing, a cidade onde Bo Xilai era o chefe do Partido Comunista.
As autoridades atribuíram a morte ao consumo de álcool e o corpo nem sequer foi autopsiado, tendo sido cremado três meses depois.
O antigo chefe da polícia de Chongquing, que ajudou Bo Xilai a ganhar reputação, sobretudo pelo combate ao crime organizado na região, pediu asilo na embaixada norte-americana e denunciou que o empresário inglês teria sido assassinado pela mulher do político, Gu Kailai.
Na China correm duas versões para os motivos do assassinato. Uma é a que Gu Kailai terá pedido ajuda a Heywood, que geria os negócios da família, para enviar uma grande quantidade de dinheiro para o estrangeiro. O britânico ameaçou denunciar a operação e foi envenenado.
A outra versão conta que Gu Kailai se terá apaixonado por Heywood e lhe terá pedido para abandonar a família por ela. O empresário recusou e foi envenenado.
Gu Kailai terá tido como cúmplice uma empregada e as duas enfrentam agora uma pena que pode ir dos dez anos de prisão à pena de morte.
A agência de notícias estatal Xinhua escreve que Gu vai declarar-se culpada e alegar que temia pela segurança do filho do casal que teria sido ameaçado pelo empresário inglês. No entanto, o julgamento, dizem alguns analistas, vai muito para além do mero caso de polícia, é um caso político.
O marido de Gu Kailai era apontado como um dos mais fortes candidatos a ocupar um cargo de topo na sucessão que se prepara na liderança do Partido Comunista e terá feito vários inimigos dentro do Partido.
Por outro lado, o crime de homicídio levará a que não sejam discutidos eventuais delitos económicos que poderiam comprometer o Partido Comunista.
Depois da detenção da mulher, Bo Xilai foi suspenso de funções e está a ser investigado. O julgamento está a ser realizado a mais de 750 quilómetros de distância do local onde terá ocorrido o crime.
O Estado recusou os dois advogados que o casal quis contratar para a defesa de Gu Kailai e nomeou dois advogados públicos. A agência de notícias Xinhua escreveu que há provas irrefutáveis de assassinato.
Apesar de já ter sido noticiado que Gu Kailai vai dar-se como culpada, nem toda a gente acredita no modo como a história está a ser contada.
O filho da advogada chinesa enviou ontem um email à cadeia de televisão norte-americana CNN, onde dizia que já depôs como testemunha e que espera que a mãe tenha oportunidade de conhecer esse depoimento. Acrescenta o filho de Kailai que tem fé de que os factos venham a falar por eles próprios.
Na China, o caso não tem sido notícia e o controlo na Internet aumentou. Várias palavras chave relacionadas com este folhetim terão sido bloqueadas pelas autoridades.