A China desvalorizou hoje a anunciada reforma política do Dalai Lama, reafirmando que o auto-denominado governo tibetano no exílio «é uma organização ilegal» e que «ninguém na comunidade internacional reconhece».
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«Não sei qual é a autoridade politica que ele realmente tem. Desde que fugiu da China, em 1959, o Dalai Lama nunca fez nada de bom para o povo tibetano. Tudo o que tem feito visa restaurar o sistema feudal», disse o presidente do governo da Região Autónoma do Tibete, Baimachilin, sobre a decisão do Dalai Dama abandonar a chefia do governo tibetano no exílio.
Há três semanas, o Dalai Lama foi substituído por Lobsang Sangay, um académico de 43 anos formado nos EUA, mantendo apenas o estatuto de guia espiritual.
Questionado sobre o sucessor do Dalai Lama, Baimachilin respondeu: «Sucessor de quem e de quê? Eu sou o 8º presidente do governo da Região Autónoma do Tibete, que é o único governo do Tibete e o legítimo representante do povo tibetano».
Numa conferência de imprensa em Pequim, o mesmo responsável afirmou que «não interessa muito se o Dalai Lama se reformou ou não», comparando os efeitos da sua decisão a «ondas numa piscina».
O Tibete, um território 13 vezes maior que Portugal e apenas com três milhões de habitantes, é uma das cinco regiões autónomas da República Popular da China.
Galardoado em 1989 com o Prémio Nobel da Paz, o Dalai Lama exilou-se na vizinha Índia há mais de meio século, após uma frustrada rebelião contra o governo chinês.
Sobre a possibilidade do Dalai Lama poder voltar agora ao Tibete, Baimachilin disse que «a porta continua aberta», mas entretanto o exilado líder espiritual dos tibetanos «tem de abandonar as actividades separatistas e reconhecer que o Tibete é uma parte inalienável da China e que Taiwan é uma província da China».
«Ele ainda não satisfez esse critérios», acrescentou.
O exército vermelho entrou no Tibete há 60 anos, num episódio descrito na história oficial como «libertação pacífica» do território ou «uma invasão», segundo os partidários do Dalai Lama.
Baimachilin disse que o Dalai Lama, que tinha então 16 anos, concordou com a decisão do governo central e negou que ele tenha sido «forçado» a assinar o acordo de 1951, que consagra a integração do Tibete na República Popular da China.
Antes, salientou o responsável, o Tibete era «uma teocracia feudal», com o sistema educativo «monopolizado» pelos templos e 95 por cinco de analfabetos.