Em entrevista à TSF, Ahmad Kanshour relata o que se passa naquela região síria.
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Ahmad Kanshour tem 33 anos e, apesar do sofrimento dos últimos anos, não quer abandonar Ghouta oriental. Vive desde que nasceu na região e não está disposto a transformar-se num refugiado.
Entrevistado pela TSF, Ahmad comentou a trégua de cinco horas decretada pela Rússia e defende que não traz grandes benefícios para a população. "É uma piada mas nós não nos estamos a rir. É algo inaceitável. Ficámos chocados por António Guterres ter dito que este cessar-fogo é algo positivo. Não é. Isto é o inicio de uma alteração demográfica. O regime prepara-se para exilar 400 mil pessoas".
Esta terça-feira, a trégua humanitária nesta região perto de Damasco não durou mais de duas horas.
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Ahmad vive em Ghouta com a mulher, dois filhos pequenos, quatro irmãos e a mãe e garante que não vão abandonar a casa onde moram. Ele acredita que, apesar do cerco dos últimos seis anos, a maioria da população não quer sair de Ghouta. Quer sim que o regime deixe entrar a ajuda humanitária como determinou o Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Ahmad Kanshour diz que todas as circunstâncias que rodeiam este cessar-fogo são lamentáveis. "A forma como o regime propõe que as pessoas saiam é humilhante. É como se estivesse a prender 400 mil pessoas ao mesmo tempo. Depois mata as que não gosta e permite às outras refugiarem-se noutros países. Como seres humanos, ninguém devia ser obrigado a aceitar uma proposta desta", defende.
Este habitante de Ghouta, que desde o início da guerra foi obrigado a deixar o trabalho como consultor de projetos educativos e acabou por se tornar ativista, considera que seria muito positivo o envio de observadores de países neutrais para a região.
Ahmad Kanshour diz que não entende a passividade do mundo perante o que o regime de Bashar Al-Assad e a Rússia têm feito com impunidade.