Em declarações à TSF, o diretor do Laboratório de Expressão Facial da Emoção da Universidade Fernando Pessoa refere que a fotografia de Trump na prisão pode ser "muito eficaz como mecanismo de propaganda".
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É uma fotografia inédita. Donald Trump é o primeiro antigo Presidente dos Estados Unidos da América a ter uma "mugshot", ou seja, uma fotografia tirada pela polícia para um processo criminal. Trump entregou-se na quinta-feira, mas foi libertado 20 minutos depois sob pagamento de uma fiança de 200 mil dólares. A fotografia foi tirada na prisão de Fulton, em Atlanta, no estado da Georgia.
Num olhar rápido pela "mugshot" fica claro que Donald Trump está zangado, mas, desafiado pela TSF, o diretor do Laboratório de Expressão Facial da Emoção da Universidade Fernando Pessoa analisa a imagem à lupa.
"Conseguimos verificar claramente na parte superior da face que o ex-Presidente dos Estados Unidos está colérico, muito zangado, e é visível através da contração da testa, na zona da glabela, com a aparição de linhas verticais entre as sobrancelhas e a elevação das pálpebras superiores. Nota-se que há uma tentativa de tentar controlar, de fazer com que a fotografia seja pousada. Todavia, temos de considerar também que está preocupado e, ao mesmo tempo, demonstra aversão pelo sítio onde estava, isto é, não estava confortável pelo simples facto de estar a ser fotografado naquela situação e circunstância", explica à TSF Armindo Freitas Magalhães.
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O investigador alerta ainda para a força e o poder de uma imagem destas, que pode ser utilizada como "mecanismo de propaganda".
"A expressão facial de cólera funciona como demonstração de poder, isto é, de combate, de reação perante uma situação que pode ser adversa e, neste caso, a consultoria de imagem do ex-Presidente dos Estados Unidos usa esta imagem como uma forma de o catapultar perante a opinião pública", considera, sublinhando que a fotografia acaba por ser também "perigosa, na medida em que, pela expressão facial de cólera, pode movimentar massas".
"Pode ser muito eficaz como um mecanismo de propaganda, no sentido em que, estando onde está, ou seja, numa prisão, e sendo a primeira vez que tal acontece com um ex-Presidente dos Estados Unidos, pode potenciar a ideia de que é possível conseguir alguns propósitos através da exibição desta imagem", acrescenta.
Além das impressões digitais e da fotografia, o antigo chefe de Estado teve ainda a sua altura e peso registados.
Após ser libertado, Donald Trump usou a rede social X (antigo Twitter), pela primeira vez desde 2021, para publicar a fotografia tirada na prisão.
O ex-chefe de Estado não publicava uma mensagem naquela que era a sua rede social de eleição, desde janeiro de 2021, quando o Twitter suspendeu a conta do político indefinidamente, alguns dias depois do ataque ao Congresso norte-americano, cometido por apoiantes.
Trump publicou a fotografia e escreveu: "Interferência eleitoral. Nunca se render!", juntamente com uma ligação para a sua página na internet.
A conta do ex-chefe de Estado foi restabelecida em novembro, logo depois de Elon Musk ter assumido o controlo da empresa.
A acusação no condado de Fulton é o quarto processo criminal contra Trump desde março, quando se tornou o primeiro ex-presidente na história dos Estados Unidos a ser acusado.
A rendição de Trump, que ocorre no meio de uma mudança abrupta na sua equipa jurídica, segue-se ao debate presidencial em Milwaukee na noite anterior, com os seus principais rivais à nomeação Republicana de 2024 - uma disputa na qual continua a ser o principal candidato, apesar da acumulação dos seus problemas jurídicos.
A rendição em Atlanta - cidade da Geórgia - é notavelmente diferente das três rendições anteriores, tendo-se desenrolado à noite e exigido que o ex-presidente se entregasse numa prisão repleta de problemas - em vez de um tribunal -, tudo isto no coração de um estado vital para as eleições presidenciais de 2024.
Vários réus no caso já passaram por este processo, incluindo o ex-advogado de Trump e ex-autarca de Nova Iorque Rudy Giuliani, que compareceu na quarta-feira na prisão.
Donald Trump é uma das 19 pessoas acusadas na Geórgia por tentativa de reverter os resultados das eleições presidenciais de 2020, nas quais o republicano perdeu para o atual Presidente, o democrata Joe Biden, por uma margem estreita.
Esta acusação criminal teve origem numa chamada telefónica, data de janeiro de 2021, quando o ex-presidennte pediu ao secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, que lhe conseguisse votos suficientes para vencer no estado.