"Com cautela, com cautela." Acordo entre Israel e Hamas pode não correr "tão bem como se está à espera"
A investigadora do ISCTE Maria João Tomás diz à TSF que este "é um acordo de Biden impulsionado por Trump de alguma forma"
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O acordo de cessar-fogo e libertação de reféns alcançado esta quarta-feira entre Israel e o Hamas pode não correr tão bem como o mundo está à espera. Para Maria João Tomás, investigadora do ISCTE, é preciso ter "cautela".
"Esta é a primeira fase, falta a segunda fase e depois da reconstrução. Dependendo desta primeira fase, vamos ter a segunda que está dependente de como correr esta. E a segunda é que tem a retirada total das tropas de Israel. Portanto, temos entretanto a posse de Trump e uma reviravolta muito grande em termos de política externa dos Estados Unidos e, sobretudo, em relação ao Médio Oriente, como também em relação à Ucrânia, mas em relação à guerra no Médio Oriente. Eu tenho algumas dúvidas que isto possa correr tão bem como se está à espera", diz a especialista à TSF.
Maria João Tomás avisa que um dos principais prisioneiros palestinianos em Israel pode não ser libertado: "Eu gostava que sim, mas vamos ver, porque um dos mais importantes prisioneiros do lado da Palestina está em risco de não ser libertado, que é o Marwan Barghouti, que é aquele que pode ser o conciliador entre a Fatah e o Hamas. Há aqui várias limitações, tendo esperança no melhor, mas pensando no pior. Portanto, com cautela, com cautela."
A investigadora do ISCTE considera que este é um bom acordo e que é o "acordo de Biden", mas teme os planos de Donald Trump para o Médio Oriente.
"É um bom acordo. Netanyahu conseguiu que a extrema-direita cedesse. Temos aqui um aspeto importante que é Netanyahu conseguiu ceder, porque tem estado a empurrar com a barriga este tempo todo, arranjando sempre um pretexto - a mesma coisa do Hamas, vamos ser muito sinceros e claros em relação a isso -, agora, a questão está que Trump apertou com ele, não Trump, mas o delegado para o Médio Oriente, apertou com o Netanyahu? E há aqui um jogo importante é que Trump é um grande aliado de Netanyahu. Nós não sabemos o que é que aconteceu nesta conversa para que Netanyahu cedesse, mas sabemos dos planos de Trump para o Médio Oriente e não são favoráveis à Palestina", considera.
E conclui: "Portanto, destas conversações que nós tivemos, que nós não sabemos, que não vieram cá para fora, esta possibilidade de haver algum acordo que nós desconhecemos em relação àquilo que são os planos e que Trump quer realmente fazer no Médio Oriente, poderá ser um dos grandes trunfos que Trump poderá ter utilizado, muito embora este acordo tem como base aquilo que Biden sempre disse. Portanto, é um acordo de Biden impulsionado por Trump de alguma forma."