Combater a dengue com... mosquitos? Médicos Sem Fronteiras põem em prática método inovador
Metade da população mundial está em risco de contrair dengue. A doença, transmitida por mosquitos, pode ser combatida graças a uma bactéria especial.
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Combater a dengue, uma doença transmitida por mosquitos, recorrendo precisamente a... mosquitos. É um método inovador, que está a ser usado num projeto nas Honduras, conduzido pelos Médicos Sem Fronteiras, numa altura em que a propagação da doença está a multiplicar-se de forma a representar uma ameaça à saúde mundial.
"Atualmente, mais de 4 mil milhões de pessoas estão em risco de transmissão ativa. É metade da população mundial em risco de contrair dengue", diz à TSF Lucas Molfino, dos Médicos Sem Fronteiras.
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Mesmo até territórios que geralmente escapavam ao problema, como Portugal, correm agora maior risco. "Há fatores sociais - como as migrações -, económicos, e também fatores ambientais - como as alterações climáticas - que, nas próximas décadas, vão colocar muita gente exposta, em regiões que ainda não estavam familiarizadas com a doença. Inclusive a Europa, onde os verões estão a ser mais quentes, tudo está a mudar", alerta.
E os métodos de prevenção usados até agora, repara o médico, estão a "ficar um pouco obsoletos". "A única forma de prevenção é controlar os vetores de transmissão,
neste caso, os mosquitos - é não ter águas paradas e esse tipo de coisas... Há também os inseticidas, mas, nos últimos anos, estamos a testemunhar um fenómeno de resistência dos mosquitos aos inseticidas... Portanto, não estão a dar os resultados esperados."
Também as vacinas contra a dengue são algo que tem ainda de ser desenvolvido, e sem muita aplicação, nota o médico, e, por isso, os Médicos Sem Fronteiras estão a apostar num método diferente. "Consiste em utilizar mosquitos portadores de uma bactéria que se chama Wolbachia. Quando os mosquitos são portadores desta bactéria, ela impede a capacidade deles de transmitirem a dengue às pessoas".
Os Médicos sem Fronteiras estão a introduzir esta bactéria em ovos de mosquitos que serão, depois, lançados na comunidade. "A ideia é, nos próximos seis meses, libertarmos mosquitos numa determinada área da cidade de Tegucigalpa, a capital das Honduras. Gradualmente, a população de mosquitos com esta bactéria vai substituir a população de mosquitos selvagens que transmitem o vírus", explica Lucas Molfino.
"Vamos monitorizar a população de mosquitos ao mesmo tempo que monitorizamos os novos casos de dengue", adianta o médico, que refere que, nos estudos conduzidos até ao momento, esta tática tem-se provado eficaz na prevenção da dengue. "Há uma redução de quase 80% na incidência de dengue e uma redução de 90% nas hospitalizações nas zonas que têm mosquitos com a bactéria Wolbachia".
O método vai ser aplicado nas Honduras, durante os próximos anos. O projeto envolve também a Academia, o ministério da Saúde das Honduras e o Programa Mundial do Mosquito. Os Médicos Sem Fronteiras esperam ter resultados finais em 2027.