Na conferência organizada pela aliança para as democracias, que está a decorrer em Copenhaga, a opinião tem sido unânime: a democracia está ameaçada, mas vale a pena defendê-la.
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Anders Fogh Rasmussen, criador da Aliança das Democracias, foi o primeiro a reconhecer isso. O antigo primeiro-ministro dinamarquês realçou, no entanto, que quem vive em regimes democráticos está mais desiludido: "A verdade é que as democracias estão em declínio em todas as regiões do mundo. É irónico que os cidadãos que vivem em sociedades democráticas, que têm todas as liberdades e oportunidades e que vivem em paz, sejam os que mais sentem que o sistema democrático não lhes serve".
Toomas Hendrik Ilves, antigo presidente da Estónia, tentou explicar uma parte do problema. O ex-chefe de Estado recordou que, pelo menos na Europa, as novas gerações já não sabem o que é viver num país onde não existem direitos democráticos ou liberdade. Muitos países e pessoas esqueceram-se do passado.
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Para dar uma ajuda à crise das democracias, os totalitarismos e populismos estão a crescer. Joe Biden, antigo vice-presidente norte-americano, deixou um alerta: para reduzir a ameaça não basta olhar para Moscovo. "A ameaça à democracia não se resume à Rússia. O totalitarismo está a aumentar em todas as regiões do mundo, com regimes opressivos, como na China, Irão e Venezuela, que querem enfraquecer as nossas sociedades e aumentar o poder que têm. Estes mesmos governos estão também a projetar a influência autoritária para além das suas fronteiras".
Uma influência que se tem manifestado com ingerências nos processos eleitorais de vários países. Anders Fogh Rasmussen não tem dúvidas de que essa estratégia vai continuar porque até às próximas eleições presidenciais americanas vão realizar-se mais de 20 processos eleitorais em países ocidentais membros da União Europeia e da NATO.
O antigo primeiro-ministro dinamarquês e secretário-geral da NATO reiterou que todos sabem que a Rússia tem interferido nas eleições dos dois lados do Atlântico e que há a certeza de que vai continuar a fazê-lo. Os países precisam por isso de trabalhar em conjunto para reduzir as falhas que existem na resposta politica. Rassmussen anunciou que, para combater esta situação, foi criada, esta quinta-feira, a Comissão Transatlântica sobre Integridade Eleitoral, que vai propor soluções.
Joe Biden sublinhou, no entanto, que não basta a resposta das instituições, cada cidadão tem responsabilidades: "Se sozinhos não temos grande poder, juntos podemos lutar".
"Mesmo um pequeno grupo de cidadãos a trabalhar para um objetivo comum pode ser um poderoso catalisador para a ação e mudança em cada um dos nossos países. É por isso que, em todo o mundo, ativistas, defensores e cidadãos comuns se levantam de manhã e vão trabalhar organizando protestos, assinando petições e candidatando-se a cargos públicos. Eles partilham a convicção de que o mundo pode ser melhor", afirmou.
É preciso lutar porque a democracia tem muitas virtudes. Biden falou em desenvolvimento económico, instituições inclusivas, estado de direito, segurança e igualdade de oportunidades.
"A democracia é uma convicção de que podemos fazer melhor mas nada acontece por acaso. A democracia exige diligência, compromisso e, por vezes, sacrifícios por parte dos cidadãos. É assim que a mantemos", rematou Biden.