Confirmado quarto cidadão português na flotilha, Israel termina operação para travar barcos e BE lamenta "silêncio ensurdecedor" do Governo
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vai receber esta quinta-feira em audiência uma delegação do Bloco de Esquerda, a pedido do partido liderado por Mariana Mortágua. Acompanhe na TSF
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Saudando a reunião que o Bloco de Esquerda tem hoje com Marcelo Rebelo de Sousa, Fabian Figueiredo lamenta, contudo, que pela parte do Governo haja um "silêncio ensurdecedor": até agora — momento em que prestou declarações no Fórum TSF — "não há qualquer resposta" do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, relativamente à ação israelita em águas palestinianas.
Não há qualquer notícia dos três portugueses detidos além do que é publicado pelo governo de Israel, responsável pela detenção ilegal de Mariana Mortágua, Sofia Aparício e Miguel Duarte.
"É aflitivo" não conseguir romper o "vazio comunicacional" que existe, já que ninguém consegue entrar em contacto com os ativistas que queriam entregar ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
Israel declarou esta quinta-feira como concluída a operação de intercetação da Flotilha Global Sumud rumo a Gaza, cujos elementos deteve, incluindo quatro portugueses.
"Nenhum dos barcos de provocação do Hamas-Sumud conseguiu entrar numa zona de combate ativa nem violar o bloqueio naval legal", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita, num comunicado citado pela agência de notícias espanhola EFE.
O Governo israelita acusa os participantes da flotilha de serem coniventes com o grupo extremista palestiniano Hamas, que considera como uma organização terrorista, daí a associação dos dois nomes.
"Um último barco desta provocação permanece à distância. Se se aproximar, também lhe será impedida a tentativa de entrar numa zona de combate ativa e de violar o bloqueio", acrescentou o ministério.
A operação começou na quarta-feira e envolveu a interceção de cerca de 50 embarcações.
Um quarto cidadão português integrava a flotilha humanitária, que seguia no barco “Selvaggia”. A flotilha foi intercetada na noite passada pelas forças israelitas quando tentava chegar à Faixa de Gaza.
"Está confirmado um quarto cidadão português a integrar a flotilha, que seguia no barco 'Selvaggia'", confirmou à TSF fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE).
O MNE, acrescentou, aguarda autorização dos familiares, que contactaram o Gabinete de Emergência Consular, para eventual divulgação da identidade deste cidadão nacional.
O porta-voz do Livre acusou esta quinta-feira o primeiro-ministro de “frieza e passividade” em relação à situação dos portugueses detidos por Israel e considerou que, ao contrário de Marcelo Rebelo de Sousa, Montenegro não cuida dos valores de humanidade do PSD.
“Devo dizer que me choca a atitude de uma certa passividade por parte do primeiro-ministro nesta situação. Ele diz-nos que espera que estes três portugueses regressem seguros, mal faria se não esperasse que eles regressem seguros, mas ele é primeiro-ministro. A ele não compete esperar, nós queremos que um primeiro-ministro faça algo mais do que esperar, que junto do governo israelita, exija a libertação destes três nossos concidadãos, que estão numa missão pacífica”, realçou Rui Tavares, em Vila Franca de Xira, distrito de Lisboa.
O líder do Livre falava aos jornalistas à margem de uma ação de campanha para as autárquicas de dia 12, altura em que foi questionado sobre a detenção por forças israelitas, na quarta-feira à noite, dos três portugueses que integravam uma flotilha que pretendia levar até Gaza ajuda humanitária, incluindo a coordenadora do BE, Mariana Mortágua.
O líder do PS apoiou hoje a posição do Governo sobre os portugueses detidos pelas autoridades israelitas e considerou que o Estado está "a fazer tudo o que pode", escusando-se a qualquer "juízo de valor" sobre "atitudes individuais".
"Neste momento o Estado, pelas informações que disponho, está a fazer tudo o que pode fazer. Devo dizer que tive que o fazer muitas vezes quando era secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, que é assegurar a proteção diplomática e consular a quem se vê em circunstâncias difíceis ou mesmo nestas circunstâncias", respondeu José Luís Carneiro aos jornalistas em Estremoz, à margem de uma ação de campanha para as autárquicas.
Questionado sobre se concorda com a ação do Governo relativamente aos três portugueses que integravam a flotilha humanitária que ia rumo a Gaza e que foram detidos pelas autoridades israelitas, o líder socialista referiu que se trata de matérias de Estado e estas "têm o apoio do Partido Socialista".
"Não faço juízo de valor sobre aquilo que são atitudes individuais na expressão de uma liberdade, de uma autonomia e também de uma responsabilidade que as pessoas assumem na sua vida pessoal", respondeu, quando interrogado sobre se, do ponto de vista político se revia na ação destes três portugueses, entre os quais está a coordenadora do BE, Mariana Mortágua.
A líder do BE não está em Portugal em plena campanha autárquica. Fabian Figueiredo considera, em declarações no Fórum TSF, que "Mariana Mortágua está no sítio certo à hora certa" e a sua decisão de participar numa missão humanitária conta "com todo o apoio do partido", já que na Faixa de Gaza "praticamente todos os dias morrem crianças à fome".
Os ativistas que tentam chegar ao enclave palestiniano "carregam a consciência do mundo, estão a fazer o trabalho que os Estados deveriam estar a fazer: entregar ajuda humanitária a uma população em desespero".
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, garantiu esta quarta-feira que os portugueses a bordo da flotilha humanitária detidos pelas forças israelitas terão "todo o apoio consular" e no "regresso a Portugal".
"O Presidente da República confirmou junto do Governo, que será assegurado, através da nossa Embaixada em TelAviv, todo o apoio consular aos compatriotas detidos, como é de regra, e em particular quando implica titulares de órgãos de soberania, bem como todo o apoio ao regresso a Portugal", lê-se numa nota publicada no site da Presidência da República.
Um total de 39 navios da flotilha Global Sumud, que estavam a caminho de Gaza, foram intercetados pelo Exército israelita desde quarta-feira à tarde, anunciou a porta-voz do grupo italiano de ativistas, Maria Elena Delia.
As restantes embarcações da flotilha, os barcos mais pequenos, continuam a navegar, mas é quase certo que serão intercetadas em breve, acrescentou a porta-voz, em declarações à agência de notícias espanhola Efe.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vai receber esta quinta-feira em audiência uma delegação do Bloco de Esquerda, a pedido do partido liderado por Mariana Mortágua, que foi detida por Israel na quarta-feira à noite.
A informação sobre a audiência, que decorrerá às 14h00, no Palácio de Belém, em Lisboa, foi divulgada pela Presidência da República, em nota oficial, acrescentando que o encontro acontece a pedido do BE.
O navio Mikeno, da Flotilha Global Sumud, está a menos de uma hora da Faixa de Gaza, segundo a página de rastreio da missão, que indica a geolocalização da embarcação a sete milhas náuticas (11 quilómetros) da costa palestiniana.
Um total de 21 navios, dos 44 registados no rastreador da flotilha, foram intercetados até às 07h00 desta quinta-feira, após uma noite de interceções pelas forças israelitas numa operação que ainda está em curso. Outros 23 navios da flotilha estão a caminho.
O primeiro-ministro disse esta quinta-feira esperar que os três cidadãos portugueses detidos por Israel possam regressar ao país "sem nenhum incidente", considerando que a mensagem da flotilha humanitária foi transmitida.
“A nossa expectativa é de que tudo se vá processar com grande normalidade e que o retorno destes portugueses possa também acontecer sem nenhum tipo de incidente”, disse Luís Montenegro, em declarações aos jornalistas, depois de um pequeno-almoço com o homólogo britânico, Keir Starmer, em Copenhaga (Dinamarca).
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel anunciou esta quinta-feira que alguns dos ativistas da flotilha Sumud Global, presos nas últimas horas, vão ser transferidos para território israelita.
De acordo com um comunicado da diplomacia israelita divulgados através das redes sociais, os membros da flotilha humanitária que foram presos "estão seguros e de boa saúde".
O Movimento de Solidariedade com a Palestina convocou para esta quinta-feira nove manifestações em várias cidades do país, para exigir a libertação "imediata" dos três portugueses detidos "ilegalmente" por Israel, quando tentavam entregar ajuda humanitária ao povo da Faixa de Gaza que, segundo a ONU, está a viver um genocídio. É o que explica à TSF Sandra Machado, uma das porta-vozes da organização.
"O Governo deve acionar todos os mecanismos diplomáticas e políticos ao seu dispor e garantir a segurança [de Mariana Mortágua, Sofia Aparício e Miguel Duarte] de forma imediata", acrescenta.
