"Conflito extremamente grave." MNE apela "à máxima contenção" nos confrontos entre Índia e Paquistão
Em entrevista à TSF, Paulo Rangel refere que "é muito importante que ambos os Estados possam entrar numa via de diálogo que ponha termo a qualquer hostilidade"
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O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, garante que está atento aos confrontos entre a Índia e o Paquistão. Em declarações à TSF, o governante apela à contenção, lembrando que os dois países têm armas nucleares.
"Este é um conflito extremamente grave, porque, estando em causa até dois países amigos de Portugal, a Índia e o Paquistão, com os quais temos relações fortes e até com grande perspetiva de se adensarem, são dois países com capacidade nuclear", explica à TSF Paulo Rangel.
O ainda ministro apela "à máxima contenção", referindo que "é muito importante que ambos os Estados possam entrar numa via de diálogo que ponha termo a qualquer hostilidade". "Estamos perante mais uma zona de conflito, com grandes repercussões em toda a região da Ásia Central e com riscos grandes também no plano mundial", alerta.
Desde que homens armados mataram a tiro 26 pessoas em Pahalgam, na Caxemira administrada pela Índia, em 22 de abril, têm vindo escalar as tensões entre os dois países do sul da Ásia, rivais desde a partição da antiga Índia Britânica em 1947.
As tensões crescentes transformaram-se rapidamente num confronto militar, levando Pequim e Londres a oferecer mediação, enquanto a UE, a ONU, Moscovo, Washington e Paris apelaram à moderação.
Os dois exércitos trocaram tiros de artilharia ao longo da fronteira disputada em Caxemira após ataques indianos em solo paquistanês em retaliação pelo ataque de Pahalgam.
O Ministro da Defesa indiano, Rajnath Singh, reiterou que estes ataques tiveram como alvo apenas "campos terroristas" cuidadosamente identificados para "evitar a população ou áreas civis".
A Índia afirmou ter destruído nove locais que alegadamente albergam membros do grupo islâmico Lashkar-e-Taiba (LeT), que responsabiliza pelo ataque na Caxemira indiana, que nunca foi reivindicado.
Nova Deli acusa o Paquistão de apoiar o LeT, o que Islamabade nega veementemente.
Mísseis indianos que caíram sobre seis cidades da Caxemira paquistanesa e do Punjab e a troca de tiros que se seguiu fizeram 31 mortos e 57 feridos, de acordo com o mais recente relatório do exército paquistanês.
Um porta-voz do exército paquistanês disse na quarta-feira à noite que o aumento do número de mortos se deveu a "disparos indianos não provocados através da linha de demarcação e violações do cessar-fogo".
O Paquistão afirma ter "abatido cinco aeronaves indianas" no espaço aéreo do seu vizinho, enquanto uma fonte de segurança indiana disse à agência France-Presse (AFP) que três caças da Força Aérea indiana caíram, por razões que não foram imediatamente especificadas.
A Índia, por sua vez, registou 12 mortos e 38 feridos na aldeia indiana de Poonch, em Caxemira, que foi alvo de inúmeros projéteis paquistaneses, segundo jornalistas da AFP.
Explosões violentas também atingiram a área em redor de Srinagar, a principal cidade na parte indiana de Caxemira, ao início da noite.
Num local do ataque, observadores militares das Nações Unidas enviados para a área disputada inspecionaram os danos.
"O ataque realizado ontem à noite [terça-feira] pela Índia representa o risco de uma guerra total", alertou o Ministério dos Negócios Estrangeiros turco.
O ministro dos Negócios Estrangeiros indiano, Subrahmanyam Jaishankar, fez vários telefonemas para o Japão, França, Alemanha e Espanha para justificar os ataques.
Para Praveen Donthi, do 'think tank' International Crisis Group, "a escalada atingiu um nível superior ao da última crise em 2019, com consequências potencialmente terríveis".
Nesse ano, Nova Deli atingiu solo paquistanês após um ataque mortal a um dos seus comboios militares em Caxemira.