Confrontos em Maputo. Pelo menos um morto, polícia lança gás lacrimogéneo e "atira balas reais" para dispersar manifestantes
Os manifestantes ripostaram e lançaram pedras e garrafas na direção da polícia
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A polícia dispersou esta quinta-feira com gás lacrimogéneo centenas de pessoas que tentavam sair do bairro de Maxaquene, nos arredores de Maputo, em direção ao centro da capital moçambicana para se manifestarem contra o resultado das eleições gerais.
A primeira carga policial, cerca das 09h20 locais (07h20 em Lisboa) levou à dispersão dos manifestantes, mas pouco depois estes voltaram a juntar-se e ripostaram ao gás lacrimogéneo lançando pedras e garrafas na direção da polícia.
Nestes confrontos, pelo menos uma pessoa morreu, confirmou à TSF Wilker Dias, ativista da plataforma Decide que presta ajuda a detidos e feridos em Moçambique.
"Em Maputo já há alguns focos de confronto. A polícia está a lançar gás lacrimogéneo e atirar para as pessoas balas verdadeiras. (...) Temos o registo da morte de uma senhora alvejada na cabeça", disse Wilker Dias, sublinhando que, ainda assim, "as pessoas não desistem" por uma "manifestação pacífica".
Segundo a mesma fonte, desde 21 de outubro já morreram 26 pessoas e foram detidas arbitrariamente outras 700.
"O Governo não tem tido empatia com o povo. Em nenhum momento tivemos o Governo de Moçambique a pedir desculpa e solidarizar-se com as vítimas", lamentou Wilker Dias.
Nas principais ruas de Maputo e nos bairros suburbanos há uma forte presença da polícia e militares, com viaturas blindadas e elementos da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), e os manifestantes começaram a deslocar-se a partir dos subúrbios em direção à capital moçambicana, que hoje de manhã estava praticamente deserta e com a quase totalidade das atividades e estabelecimentos encerrados.
Tal como acontece há uma semana, hoje registam-se novamente fortes condicionalismos no acesso à Internet, nomeadamente redes sociais.
O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique a 24 de outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição a Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados por Venâncio Mondlane.
Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este afirmou não reconhecer os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
Após protestos nas ruas que paralisaram o país, Mondlane convocou novamente a população para uma paralisação geral de sete dias, desde 31 de outubro, com protestos nacionais e uma manifestação concentrada em Maputo convocada para hoje.
A Ordem dos Advogados de Moçambique alertou que "existem todos os condimentos" para que haja "um banho de sangue", apelando a "um diálogo genuíno" para que isso não aconteça.
Hoje cumpre-se o oitavo dia de paralisação e manifestações em todo o país, com a generalidade a levar à intervenção da polícia, que dispersa com tiros e gás lacrimogéneo, enquanto os manifestantes cortam avenidas, atiram pedras e incendeiam equipamentos públicos e privados.
Notícia atualizada às 09h18
