Na manhã de sábado, dois membros da tribo Guajajara foram mortos a tiro e outros dois ficaram feridos numa estrada que corta uma reserva, no estado brasileiro do Maranhão.
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O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) defendeu esta segunda-feira que as políticas e "discursos racistas" promovidos pelo Governo do Brasil incentivaram o assassínio de dois líderes indígenas no país. Para o Cimi, organização ligada à Igreja Católica que defende os indígenas brasileiros desde a década de 1970, o atentado contra líderes Guajajara no fim de semana passado "é da responsabilidade das autoridades, que têm negado os direitos indígenas, incitado o preconceito e o ódio na população e acobertado a invasão dos territórios e a violência física contra os povos".
"Tais crimes, contando ainda com atentados, ameaças, tortura e agressões ocorridas por todo país contra essas populações, têm acontecido na esteira de discursos racistas e ações ditadas pelo Governo [do Brasil] contra os direitos indígenas", acrescentou o Cimi.
Na manhã de sábado, dois membros da tribo Guajajara foram mortos a tiro e outros dois ficaram feridos numa estrada que corta uma reserva, no estado brasileiro do Maranhão. Foram mortos os caciques Firmino Praxede Guajajara, da Terra Indígena Cana Brava, e Raimundo Belnício Guajajara, da Terra Indígena Lagoa Comprida.
As autoridades informaram que os disparos foram feitos por criminosos que estavam dentro de um veículo branco, mas não identificaram nenhum suspeito. Após o ocorrido, o governador do Maranhão, Flávio Dino, anunciou o envio de reforços da polícia e da secretaria de Estado dos Direitos Humanos à região, e disse que haverá uma investigação para descobrir e capturar os autores do ataque.
Já o ministro da Justiça do Brasil, Sergio Moro, escreveu na rede social Twitter que ordenou uma investigação sobre o caso.
"Assim que soube dos tiros, a Funai [Fundação Nacional do Índio] foi até a aldeia tomar providências, junto com as autoridades do governo do Maranhão (...) A Polícia Federal já enviou uma equipa ao local e irá investigar o crime e a sua motivação", escreveu Moro.
Lamento o atentado, ocorrido hoje no Maranhão, que terminou com dois índios guajajaras mortos e outros feridos. Assim
- Sergio Moro (@SF_Moro) December 7, 2019
que soube dos tiros, a Funai foi até a aldeia tomar providências, junto com as autoridades do governo do Maranhão.
A Funai, órgão governamental criado para defender direitos e interesses dos indígenas, é tutelada pelo Ministério da Justiça. Embora tenha se pronunciado sobre o caso, o Cimi criticou Moro por considerar que "o Ministério da Justiça, ao qual a Funai é subordinada, está omisso e o ministro Sérgio Moro nega-se a receber os representantes indígenas que têm solicitado audiências para resolver pendências territoriais".
O Cimi também acusou o Governo brasileiro de instrumentalizar a política indigenista em favor dos interesses económicos de produtores rurais, mineradores e madeireiros, uma prática classificada como "grave e irresponsável" porque vai contra a Constituição e todos os acordos e convenções internacionais de proteção dos povos originários, direitos humanos e meio ambiente, assinados pelo país.