A esquerda e o campo presidencial têm apenas algumas horas para apresentar os argumentos finais e tentar reduzir a distância com a extrema-direita, que todas as sondagens indicam como a clara vencedora das legislativas francesas
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A campanha para a primeira volta das eleições legislativas termina à meia-noite. Os franceses acompanham esta campanha mais do que nunca e dois terços dos eleitores garantem votar no domingo. Entre as três principais forças políticas, os programas são bem distintos: o do Juntos pela República, a coligação que apoia Emmanuel Macron, apresenta-se como um projecto de continuidade, a aliança de esquerdas unidas sob a Nova Frente Popular propõe uma ruptura clara com o governo cessante. E, por fim, o programa da União Nacional centra-se em temáticas históricas do partido de extrema-direita: imigração e segurança.
Com 36% das intenções de voto, todas as sondagens colocam invariavelmente a União Nacional em primeiro lugar. As projeções são inéditas e, além da tentativa de normalização deste partido de extrema-direita, revelam uma adesão às teses da extrema-direita para libertação do discurso racista em França. Por seu lado, a esquerda (socialistas, ecologistas, comunistas e insubmissa) unida na Nova Frente Popular fica em segundo lugar, com 29%. Quanto à maioria de Emmanuel Macron, foi relegada para o terceiro lugar, com 19,5%.
O projecto de lei ‘do fim da vida’, por exemplo, o alargamento do serviço nacional universal ou o reforço do poder de compra foram alguns dos temas que marcaram a campanha. O campo de Emmanuel Macron propõe reduzir impostos para os salários mais baixos e reduzir o preço da electricidade a partir do próximo inverno, promete a isenção do pagamento de notários, aos jovens das classes média e populares, na compra da primeira habitação até 250 mil euros. Resta saber se muitas pessoas que podem vir a ter acesso a esta medida têm meios para contrair empréstimos para comprar casa.
Quanto à Nova Frente Popular, a Aliança de Esquerda propõe uma ruptura clara com o governo cessante. Em primeiro lugar, quer rever vários marcadores fortes do governo de Macron, voltar atrás com a reforma das pensões, do desemprego, da lei de imigração e acabar com o recurso ao artigo 49.3.
No que diz respeito ao poder de compra, a coligação propõe um salário mínimo de 1600 euros, a indexação automática dos salários adaptados à inflação, tornar a escola totalmente gratuita, incluindo o material e refeições. Quanto à ecologia, quer alcançar a neutralidade carbónica até 2050 e acelerar a renovação e o isolamento dos edifícios. Para aplicar estas medidas, a despesa pública promete ser importante, avaliada em 150 mil milhões de euros, segundo dados da Nova Frente Popular. Para financiá-los, a Frente Popular quer apostar na recuperação da economia e, sobretudo, numa grande reforma fiscal, cujos alvos são os mais ricos, nomeadamente através do restabelecimento do imposto sobre a riqueza.
Por fim, o programa da União Nacional quer proibir determinados empregos para cidadãos com dupla nacionalidade, abolir o direito de solo (nacionalidade atribuída com base no país de nascimento), restabelecer as penas mínimas e a suspensão dos abonos de família para os pais de delinquentes menores.
Jordan Barcella quer criar experiências no uso de uniforme nas escolas e proibir telemóveis nos estabelecimentos escolares. Quanto à economia, já não quer rever a reforma das pensões, defendendo reduzir o IVA dos produtos energéticos para 5,5%. Permanecem questões sobre o financiamento deste programa que depende de receitas que resultem da luta contra a fraude social.
