"Contra lei internacional." Barco da Sea Watch continua "bloqueado" pelas autoridades italianas
O barco humanitário da organização não governamental Sea Watch ainda não foi libertado pelas autoridades de Itália. A porta-voz desta organização, Giulia Messner, acusa o país de não estar a respeitar a lei internacional.
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O barco, que tinha acabado de salvar 72 pessoas, estava a ser obrigado a fazer uma longa viagem quando tinha por perto Lampedusa, o porto para onde acabou por se dirigir. Um desrespeito que as autoridades castigaram com uma multa e um arresto temporário.
Agora a ONG Sea Watch afirma que o que Itália estava a pedir significa um desrespeito pelas regras internacionais. Não fosse o arresto e o barco Aurora estaria a salvar vidas no Mediterrâneo.
"O Aurora está neste momento bloqueado pelas autoridades italianas. Vai ter de ficar no porto de Lampedusa durante 20 dias. Caso contrário estaria, evidentemente, a salvar vidas no Mediterrâneo", contou à TSF Giulia Messner, porta voz da Sea Watch.
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E não está porque, na segunda-feira, foi isso mesmo que fez: salvaram 72 pessoas num dia particularmente difícil.
"Itália obrigou-nos a esperar no mar durante 37 horas. Portanto imagine a situação. Estava um calor insuportável, mais de 46 graus no deque e deixámos de considerar a situação como segura para estas pessoas. Aí pedimos de urgência uma rota para Lampedusa porque é o porto mais próximo e, de acordo com a lei internacional, todas as pessoas resgatadas no mar devem ser enviadas para o porto mais próximo ou para um que tenha as condições adequadas", explicou a porta-voz da Sea Watch.
Mas, apesar da lei, Roma deu outras instruções. O Aurora deveria dirigir-se para a Sicília, uma viagem quatro vezes mais longa do que a deslocação para Lampedusa.
"Porque o Aurora já estava em operações de salvamento há muitas horas, não tínhamos como ir para a Sicília. Foi isso mesmo que comunicámos às autoridades italianas que nos pediram para solicitarmos um porto na Tunísia, mas isto vai totalmente contra a lei internacional porque a Tunísia não pode ser considerada um porto seguro e, se o fizéssemos, estaríamos a empurrar as pessoas salvas de volta para um sítio perigoso e até mesmo o sítio de onde estavam a fugir", esclareceu.
Sem seguir as instruções, acabaram por rumar à ilha de Lampedusa onde as 72 pessoas foram acolhidas. Giulia Messner acusa o Governo italiano de estar propositadamente a dificultar os salvamentos no mediterrâneo e dá exemplos.
"Desde o início do ano, quando a nova legislação sobre resgates no mar entrou em vigor, as autoridades italianas estão a pedir às organizações humanitárias para irem contra a lei internacional de variadas formas. O decreto, por exemplo, diz que o capitão tem de se dirigir para um porto imediatamente após um salvamento, mesmo que saibamos ou sejamos informados de outros pedidos de auxílio e, claro, a lei internacional diz que se soubermos de mais emergências temos de os ir salvar. Portanto, o que o Governo italiano está a fazer é completamente ilegal e contribui diariamente para mortes no mediterrâneo", acrescentou Giulia Messner.
Mortes que, só este ano, segundo as organizações não governamentais, já ultrapassam os 2300 mortos. A grande maioria por afogamento.