COP28. "Negociações difíceis", mas amplo consenso de "que este é o momento crítico para agir"
À TSF, secretária de Estado da Energia e Clima, presente na cimeira que decorre no Dubai, sublinha que para lá das polémicas, há esperança num acordo que defina o princípio do fim dos combustíveis fósseis.
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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, tem repetido os avisos ao mundo: se nada for feito, o mundo pode entrar "em colapso". A COP28 decorre na reta final de 2023 que, segundo os cientistas, pode ser o "ano mais quente" desde que há registo.
A cimeira do clima das Nações Unidas tem sido marcada por várias declarações polémicas, em particular, do seu presidente. Numa conferência, noticiada no fim de semana pelo The Guardian, Al Jaber, afirmou que "não havia ciência" que provasse o benefício dos combustíveis fósseis. O presidente da COP28 é também CEO da petrolífera estatal de Abu Dhabi, o que tem merecido inúmeras críticas.
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Um dos últimos rascunhos do acordo climático global divulgado esta terça-feira inclui várias hipóteses: "A eliminação progressiva dos combustíveis fósseis" e, por outro lado, "nenhuma referência" ao objetivo delineado pela ONU.
"As negociações serão certamente difíceis até porque as decisões da COP são tomadas por consenso. Temos aqui 197 países, mais a União Europeia, que têm de chegar a uma decisão por unanimidade. Portanto, [as negociações] são claramente difíceis", assume a secretária de Estado da Energia e Clima, em declarações à TSF a partir do Dubai.
Ainda assim, com as dificuldades em alcançar um acordo, Ana Fontoura Gouveia garante "que está muito confiante na capacidade coletiva" de tentar chegar a um acordo. "Há uma ideia de todas as partes que este é o momento crítico para agirmos. Claro que podemos ter algumas diferenças de interpretação depois do que é que isso significa, mas na verdade, ainda ontem, o presidente da COP, veio reforçar que temos de reduzir, que temos de eliminar, ele usou esta expressão, as emissões de combustível fósseis", revela a governante, salientando os "progressos" que têm sido alcançados.
A realização desta cimeira, no Médio Oriente, uma região onde as economias são dependentes do rendimento das receitas do petróleo, trouxe para cima da mesa da discussão várias críticas. Houve até quem falasse "num paradoxo". Para Ana Fontoura Gouveia, esta pode ser uma oportunidade. "A geografia onde estamos agora, junto dos países produtores de petróleo, junto dos países que têm economias muito dependentes dos combustíveis fósseis, é o sítio ideal, é a localização ideal, para conseguirmos progressos", defende, acrescentando que "não será fácil" mas que é fundamental "manter o diálogo" com os países mais dependentes do petróleo.
A conservação e os objetivos climáticos de Portugal
No que diz respeito à ação climática, Portugal tem sido ambicioso em antecipar as metas. Questionada sobre se a instabilidade política pode comprometer os objetivos climáticos do país, Ana Fontoura Gouveia assinala que a versão final do Plano Nacional de Energia e Clima será concluída em junho do próximo ano, sublinhando, que apesar das legislativas em março, "há um amplo consenso sobre as oportunidades" do processo descarbonização. Além disso, a secretária de Estado da Energia e Clima acredita que as metas definidas no documento, desde o investimento nas renováveis e a antecipação de vários objetivos para 2045, são pontos "que qualquer governo quererá prosseguir".
Na COP28, há também uma preocupação em aumentar a proteção e a conservação da natureza em todas as partes do planeta e, em particular, Portugal tem um papel relevante na gestão dos oceanos. Ana Fontoura Gouveia lembra que o país "tem sido um líder na defesa que o papel dos oceanos pode ter na regulação do clima".