Português a viver há quase uma década em Madrid confessa que ainda está a tentar perceber que mundo novo é este.
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O ritual cumpre-se todas noites na capital espanhola. Às 20h00 abrem-se as janelas, montam-se as colunas e dança-se ao som de música viva e alegre, daquela que imprime a energia que contrasta com os dias de incerteza de quem cumpre rigorosamente um estado de emergência.
António Bettencourt, de 36 anos, há quase uma década a viver em Madrid, confessa que ainda está a tentar perceber que mundo novo é este. De uma coisa tem a certeza: se o governo de Pedro Sánchez não tivesse sido firme ao declarar emergência por 15 dias, ninguém iria respeitar as recomendações das autoridades de saúde.
Quando "proibiram as pessoas de sair de casa é que se notou a diferença. Porque até lá as pessoas iam passear para o parque, para a montanha" e, tal como aconteceu em Portugal, "aproveitavam para ir para a praia". Antes do estado de emergência "as esplanadas em Madrid estavam cheias de gente".
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Este português em Madrid lembra que os hábitos alteraram-se por completo quando "mandaram fechar os estabelecimentos comerciais e a polícia começou a patrulhar as ruas, avisando através de altifalantes que as pessoas são obrigadas a ficar em casa e se forem encontradas na rua terão de explicar à policia porque é que não estão em casa".
Atualmente, salvo rara exceção, todos respeitam as ordens das autoridades.
"Até obrigarem os bares a fechar e começarem a multar as pessoas nas ruas, a verdade é que a maioria continuava a fazer a vida normalmente", explica António Bettencourt.
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Na opinião de António Bettencourt, a melhor medida que o governo tomou, depois de declarar emergência, foi encerrar as fronteiras, uma vez que muitos espanhóis pretendiam "passar umas fériazinhas em Portugal".
Quando à resposta que está a ser dada à Covid-19 pela saúde, o cenário não é animador. António Bettencourt está certo de que os "hospitais colapsaram". "Os médicos estão exaustos, a trabalhar imensas horas, não sabem se estão infectados, não há camas para todos", conta o português que está em Madrid.
Para agravar a situação, "quem está em casa e quer ser testado, porque suspeita estar infectado, fica sem resposta".
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"Dizem às pessoas para não irem ao hospital. (...) Eu tenho vários colegas de trabalho que estão em casa há mais de uma semana, que têm exatamente os sintomas do novo coronavírus e que já ligaram várias vezes para o numero especifico" para serem testados em casa mas não acontece nada.
Das duas uma, "ou há uma grande dificuldade em fazerem os testes a todas as pessoas que o pedem ou não há testes suficientes. As pessoas só são mesmo levadas para o hospital quando já estão numa situação limite".
Com o aumento constante do número de vitimas do novo coronavírus em Espanha, as pessoas mantêem-se calmas, dentro do que poderia ser expectável, e, para António Bettencourt, "estão mais preocupadas com o estado da economia do que com a saúde".
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Fechados em casa com o mundo às avessas vão cantando á janela, a uma só voz: "at first I was afraid, I was petrified..."
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