O ministro considera que “um ditador que precisa de eliminar os rivais para ganhar eleições” não sai reforçado das “eleições”.
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O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho afirmou, esta segunda-feira, em Bruxelas, que as eleições russas não podem ser reconhecidas como “livras e justas”. Classificando as eleições “como exercício fársico”, considerou que não está perante “umas verdadeiras eleições”.
“Não devemos dignificar este acontecimento com o nome de eleições. Eleições, nós conhecemos, aconteceram em Portugal, no ia 10 de março [e] acontecem nos países democráticos”, comentou o ministro, considerando que “aquilo que aconteceu na Rússia não tem dignidade para merecer esse nome”.
Por essa razão, a União Europeia “não reconhece estas eleições como livres e justas, manifestamente não o foram”, afirmou o ministro, considerando que há “um aspeto acrescentado de ilegalidade nas províncias ucranianas, onde as autoridades russas ocupantes realizaram eleições”.
“É evidente que não faz nenhum sentido reconhecer essas eleições”, enfatizou, acrescentando que “o mesmo se aplica à Transnístria e às regiões ocupadas da Geórgia”.
João Gomes Cravinho considera mesmo que o ato eleitoral se tratou de um exercício teatralizado. “É uma curiosidade, um paradoxo, que as ditaduras sentem necessidade de procurar legitimar se internacionalmente e internamente através de exercícios fársicos que procuram simular uma eleição, mas que não tem nenhum tipo de credibilidade”, considerou.
Questionado sobre se o resultado para um mandato de seis anos, é sinónimo de uma posição reforçada para Vladimir Putin, o ministro considerou que há um histórico da atuação do Kremlin, relativamente aos opositores, que demonstra o contrário.
“Se Putin tivesse demonstrado que era capaz de se bater de igual para igual com pessoas como Alexei Navalny ou Boris Nemtsov, que é outro rival que foi assassinado, há uns anos atrás, talvez merecesse essa ideia de sair mais forte. Mas, um ditador que precisa de eliminar os seus rivais para ganhar eleições não creio que possa ser considerado como sendo mais forte”, afirmou.
Na manhã desta segunda-feira, o Alto Representante para a Política Externa, Josep Borrell antecipou aquela que seria a posição no conselho de Negócios Estrangeiros, afirmando que “não foram eleições livres e nem justas”, desde logo porque “não tiveram observadores da OSCE”.
“Ocorreram num ambiente altamente restritivo - é isto é o que posso dizer diplomaticamente, foi até mais do que isso”, afirmou Borrell, considerando “estas eleições basearam-se na repressão e na intimidação e realizaram-se no território ucraniano ocupado, violando a soberania ucraniana”.