Crescimento alemão revisto em baixa para 2024. "Arrefecimento" afeta "economia portuguesa"
O economista Manuel Caldeira Cabral antecipa, na TSF, que "conjuntura [portuguesa] não seja muito favorável" no próximo ano.
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O banco central alemão baixou esta sexta-feira de forma acentuada a previsão de crescimento da primeira economia europeia para 2024 de 1,2% para 0,4%, o que se deve principalmente à debilidade das exportações.
Para 2023, o Bundesbank mostrou-se menos pessimista e antecipou uma recessão de 0,1%, quando antes previra 0,3%.
"A recuperação económica está a registar um certo atraso", observou o Bundesbank em comunicado.
"A fraca procura externa constitui o principal travão para a indústria, além disso, o consumo privado mantém-se contido e o aumento dos custos de financiamento dificulta o investimento", acrescentou a instituição, assegurando que a situação "vai tornar-se mais clara" no início de 2024.
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O economista Manuel Caldeira Cabral alerta, em declarações à TSF, que esta travagem a fundo da economia alemã vai ter impacto na economia portuguesa.
"Quando a maior economia da UE trava, e trava desta maneira, se se verificarem estas previsões, isso terá um impacto na economia portuguesa. Portugal exporta muito para a Alemanha e a indústria portuguesa está muito integrada com a indústria exportadora alemã, isto é, muitas das exportações alemãs têm componentes ou partes que são fabricadas em Portugal, portanto, a travagem alemã não tem só o efeito da redução da procura interna alemã, tem as próprias causas da travagem alemã que se vão refletir na nossa indústria", explica.
Manuel Caldeira Cabral aponta igualmente que este "arrefecimento alemão" será também sentido noutros mercados estrangeiros, destacando que estas são sobretudo "más notícias" para a Europa.
"Portugal tem também outros setores que são menos dependentes da Alemanha: exportações, serviços que excedem muito as exportações de turismo. As exportações de turismo hoje em dia já são menos de metade das exportações dos serviços, mas tem exportações de serviços que estão menos ligadas às exportações alemãs e têm também outros mercados: o mercado espanhol, o francês, o inglês, que têm uma importância grande em setores também diferentes. No entanto, o arrefecimento alemão vai obviamente ter também efeitos na economia espanhola e na economia francesa. Nesse sentido, são notícias más para a Alemanha, em primeiro lugar, para a Europa e obviamente também para Portugal", defende.
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O também e professor da Universidade do Minho antecipa por isso uma conjuntura pouco "favorável" para o setor português.
"Para a economia portuguesa deverá continuar a prever-se um crescimento acima do crescimento europeu - como tem acontecido nos últimos oito anos, tirando os anos da pandemia -, mas mesmo crescendo acima, com um diferencial de crescimento razoável, continuaremos a ser influenciados pela conjuntura europeia e temos de nos preparar para que no próximo ano a conjuntura não seja muito favorável", lamenta.
Apesar de um cenário pouco animador, Manuel Caldeira Cabral identifica um ponto a favor da economia portuguesa.
"Felizmente, a situação de equilíbrio das contas públicas, o saldo positivo e a situação do orçamento ter alguns estímulos à procura interna - garantem uma atenuação da situação económica, dos efeitos externos na situação economia portuguesa e garantem também que, mesmo que haja um arrefecimento do crescimento económico, não está em causa caminharmos para défices elevados, porque partimos de uma situação de equilíbrio", vinca.
O modelo económico alemão, que assenta numa forte indústria exportadora, está a sofrer com uma conjuntura internacional mais sombria e com a rápida subida das taxas de juro na zona euro, que penalizam o consumo e o investimento.
Os preços da energia são demasiado elevados em comparação com os seus concorrentes, especialmente desde a guerra na Ucrânia e o fim das entregas de gás russo mais barato, o que prejudica as atividades com maior utilização de energia, que tentam recuperar os níveis de produção anteriores.
O Governo alemão ainda espera que o Produto Interno Bruto (PIB) aumente 1,3% no próximo ano, enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê uma recuperação de 0,9%.
Em relação à inflação, o Bundesbank prevê que a situação continue a melhorar, como nos últimos meses, apontando para 2,7% em 2024, segundo o índice harmonizado de preços no consumidor.