Há crianças "a beber água de autoclismos". ONU apela à entrada de 100 camiões de ajuda por dia em Gaza
Falta água, comida, energia e medicamentos em Gaza. Há disponibilidade para ajudar, mas falta garantir segurança para o fazer, alerta Jorge Moreira da Silva.
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Jorge Moreira da Silva, subsecretário-geral das Nações Unidas, apela a um "cessar-fogo humanitário" entre Israel e o Hamas para que mais de cem camiões possam entrar em Gaza todos os dias.
Em declarações à TSF, o adjunto de António Guterres lembra que "a situação é muito crítica" para os palestinianos, como tem sido possível verificar em vários relatos: não há água, não há energia, não há medicamentos, não há alimentos" há já 14 dias.
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A ONU exige que "as regras básicas do direito Internacional humanitário têm que ser respeitadas", nomeadamente a proteção de civis e de infraestruturas civis.
Nesse sentido, "é absolutamente imprescindível conseguir que a ajuda chegue, chegue com escala, e de uma forma segura" alerta Jorge Moreira da Silva, defendendo que "tem de haver uma garantia de um cessar-fogo humanitário" em Gaza.
Não basta abrir a fronteira em Rafah, reforça. "É necessário que a ajuda chegue com escala e, de acordo com os cálculos que temos feito, com as necessidades que existem têm de chegar à Faixa de Gaza mais de 100 camiões por dia".
Jorge Moreira da Silva assegura que "essa disponibilidade existe" por parte das Nações Unidas, mas falta garantir que "os funcionários das Nações Unidas possam fornecer essa ajuda em segurança".
Há mais de 200 camiões e cerca de 3.000 toneladas de ajuda estão posicionados na passagem de Rafah ou perto desta, que é a única ligação de Gaza ao Egito, no entanto o Presidente egípcio Al-Sissi só terá concordado em "deixar até 20 camiões atravessarem" a fronteira.
Crianças estão a beber água de autoclismos e do chão
"A destruição em Gaza é "de larguíssima escala", lamenta o subsecretario geral das Nações Unidas, lembrando que este já era um território "frágil, muito pobre, muito vulnerável".
Nos últimos 14 dias, a Faixa de Gaza perdeu muitas infraestruturas críticas, em especial na área da saúde. "Foram bombardeadas mais de 57 instalações, foram destruídas escolas, foram destruídas estradas."
No futuro, "vai ser necessário reconstruir" Gaza, "o que terá de ocupar a atenção da comunidade Internacional daqui a algum tempo". Mas para já, "estamos a falar de suporte de vida", alerta Jorge Moreira da Silva.
Segundo a Organização Mundial de Saúde "são necessários pelo menos 50 litros de água por dia por pessoa para que uma economia funcione normalmente, para que a agricultura funcione, para que as pessoas possam beber água, para que possam ter as suas condições de higiene". Mas em Gaza cada pessoa apenas tem acesso a um litro de água "para todas as necessidades".
"As crianças estão a beber água dos autoclismos", água suja, impotável, "a água que encontram em recipientes abandonados, a água do chão".
"Estamos a falar de uma situação trágica. O tempo está a esgotar-se", alerta Jorge Moreira da Silva.
"O que fizemos nas próximas horas vai afetar as próximas décadas"
Ressalvando que "aquilo que aconteceu em Israel perpetrado pelo Hamas foi um ato hediondo, grotesco, sem perdão", o representante da ONU avisa que "não podem ser os civis palestinianos a pagar o preço da brutalidade preparada pelo Hamas sobre civis israelitas".
Além disso, "os civis não podem ser usados como escudos humanos e é necessário libertar os reféns israelitas que foram sequestrados pelo Hamas".
Jorge Moreira da Silva considera, por outro lado, que é preciso ponderar bem todos os passos neste conflito. "Aquilo que nós fizemos nas próximas horas vai afetar a região durante as próximas décadas", aponta, uma vez que existe um grande risco de a tensão se alastrar para outros territórios.
"Espero que toda a pressão diplomática política possa ser colocada para que os reféns sejam libertados, para que o cessar-fogo imediato seja garantido e para que a ajuda humanitária que está disponível na fronteira possa chegar às pessoas", apela o subsecretário-geral da ONU. "Sob pena de estarmos a falar de uma situação irreversível em termos humanitários."
