Crise em Gaza: João Oliveira pede posição firme de Bruxelas sobre Israel "para pôr fim ao genocídio"
Em entrevista à TSF, o eurodeputado comunista acusa a maioria do Parlamento Europeu de cumplicidade com a política de Netanyahu
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O Parlamento Europeu debate esta quarta-feira a crise humanitária na Faixa de Gaza e o plano do Governo israelita de assumir o controlo total do território. O debate foi agendado após um pedido inicial do deputado comunista João Oliveira. Em declarações à TSF, o eurodeputado defende o reconhecimento imediato do Estado da Palestina da parte da UE e dos Estados-membros, um embargo à compra e venda de armas a Israel e acusa as instituições europeias de, “através do silêncio”, serem cúmplices com o que considera ser "um genocídio".
João Oliveira exige que a União Europeia e os governos nacionais passem à ação com medidas concreta e espera que o debate parlamentar possa servir de alerta para uma situação que diz ser insustentável.
O eurodeputado, que promoveu na véspera uma reunião com a embaixadora da Palestina junto da União Europeia, Amal Jadou, replica o alerta da diplomata sobre a situação “terrível” vivida não só em Gaza, mas também na Cisjordânia, com “a expansão de colonatos e pela violência de colonos israelitas”.
João Oliveira espera que o debate parlamentar permita "uma posição mais firme do Parlamento Europeu relativamente à exigência de pressão política sobre Israel para pôr fim ao genocídio". O deputado defende medidas concretas, com destaque para “a suspensão do Acordo de Associação União Europeia–Israel, o embargo à venda”. Em simultâneo, defende que deveria haver “um reconhecimento do Estado palestiniano”, por considerar que seria um instrumento de "pressão política fortíssima".
O deputado comunista acusa a maioria do Parlamento Europeu de, através de “um silêncio”, ser cúmplice da política israelita. “A maioria dos deputados tem-se posicionado com o silêncio ou até com cumplicidade aberta perante o genocídio”, afirma, apontando que “nem os governos nacionais, nem as instituições da União Europeia têm usado o poder que têm na mão” para travar a escalada.
João Oliveira rejeita ainda qualquer “militarização da ajuda humanitária”, acusando o Governo israelita de querer usar a assistência humanitária como cobertura para novas ofensivas. “É inaceitável que se secundarize o papel da UNRWA e se queira substituir as agências humanitárias pela lógica militar”, alerta.
O debate no Parlamento Europeu acontece numa altura em que se agravam os alertas das Nações Unidas para o risco de fome em larga escala em Gaza, onde mais de dois milhões de pessoas vivem sob um bloqueio israelita quase total. Segundo João Oliveira, a embaixadora indicou que seriam necessários “44 mil camiões de ajuda humanitária” para dar resposta à situação. O número é muito superior ao volume autorizado por Israel, no passado domingo, de “nove camiões” e já esta semana de mais uma centena.
A discussão parlamentar é enquadrada por uma declaração conjunta dos líderes dos grupos políticos PPE, S&D, Renovar a Europa, Verdes/ALE e Esquerda, datada de 10 de maio, em que se expressa “profunda preocupação” com o risco de nova escalada militar por parte de Israel e se condenam todas as violações do direito internacional.
No texto, os grupos políticos apelam a um cessar-fogo imediato, à libertação incondicional dos reféns israelitas, à rejeição de quaisquer alterações territoriais forçadas e à intensificação dos esforços diplomáticos para alcançar uma solução duradoura baseada na criação de dois Estados.
O debate arranca às 15h45 (hora de Bruxelas), com a participação do comissário europeu Glenn Micallef e do ministro polaco para os Assuntos Europeus, Adam Szłapka. Não está prevista a adoção de qualquer resolução, o que, na prática, significa que o Parlamento não votará uma posição formal sobre o tema no final da sessão.