Pagos por autarcas do Rio de Janeiro, os “artistas” infiltravam-se em filas de autocarro, cafés e mercados e encenavam discussões com informações falsas sobre rivais
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Na era da internet, ainda se produzem fake news à antiga. Os prefeitos de Cabo Frio e Itaguaí, um candidato à autarquia de Mangaratiba e um deputado estadual que concorreu por São João de Meriti, todas cidades no estado do Rio de Janeiro, estão entre os dez alvos da segunda fase da Operação Teatro Invisível, que visa políticos e atores de teatro acusados de difamar rivais políticos nas filas do banco, nos cafés, nos autocarros, nos mercados e pelas ruas.
Os atores recebiam dois mil reais e os coordenadores dos grupos cinco mil, pagos pelos cofres públicos, para se infiltrarem em lugares com aglomerações de pessoas para difundir informações falsas, de forma encenada, sobre os adversários. Sofisticado, o esquema previa ainda a especificação da quantidade de eleitores atingidos e aparentemente convertidos.
Eles criavam peças improvisadas, com argumentos previamente pensados para parecerem espontâneos, incluindo diálogos, brigas, denúncias falsas de corrupção e cenas de suposta violência ou vandalismo atribuídos aos rivais dos mandantes do esquema.
Antes, ensaiavam em armazéns e salas de aula.
Tudo era gravado por telemóveis e câmeras disfarçadas e depois disseminado de forma coordenada pelas redes sociais, informa o portal G1.
No programa Fantástico, da TV Globo, um ator relatou ter recebido para atuar como “eleitor indignado” em feiras de rua e em terminais de transporte.
A polícia encontrou um arquivo na campanha de Valdecy da Saúde, atual prefeito de São João de Meriti, chamado “Valdecy campanha de teatro”.
Entre as mentiras estava a suposta ligação de um rival de Valdecy ao assassinato de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro, em 2018.
O grupo é agora suspeito de obstrução de justiça, fraude e lavagem de dinheiro, entre outros crimes.
