No sertão do Piauí, filha de agricultor abateu felino, alegando que ele atacava o rebanho de bodes familiar. Mas cometeu um crime, diz instituto de proteção
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Os vídeos que viralizam no Brasil e no mundo decorrem, normalmente, num ambiente urbano, mas este, no país com uma das maiores flora e fauna do mundo, aconteceu em plena selva e com animais – e humanos, claro – como protagonistas.
Eula da Silva, que vive no Rio de Janeiro, estava de visita à pequena propriedade dos pais, em Alto Longá, interior do Piauí, quando soube que uma onça-parda, um dos felinos mais comuns do Brasil, andava a rondar a fazenda atrás de um rebanho de bodes e de outros animais que são o sustento da família.
Rodeou então o animal, com o auxílio do pai e de meia dúzia de cães, e obrigou-o a subir a uma árvore, em fuga. Depois disparou e matou-o.
Ferida, a onça ainda pula de ramo para ramo antes de cair no chão e ser atacada pelos cães, que a matam. Eula então comemora eufórica por ter morto uma onça para o vídeo, que viralizou, gravado pela irmã.
O pior veio depois: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, o Ibama, decidiu aplicar uma multa de 45 mil reais, perto de oito mil euros a Manoel, o pai e dono da arma, e a Eula, a filha e autora do disparo, porque a onça-parda, em vias de extinção, é um animal protegido.
Segundo responsáveis do instituto, a onça é fundamental para o equilíbrio ecológico da região, com apenas um único registo de ataque a humanos ou animais.
Manoel, em reportagem do programa Fantástico da Rede Globo, diz-se arrependido, confessa que não sabia que matar uma onça era crime e afirma que não tem como pagar a multa até porque a vítima – a onça – era, afinal, uma vilã para ele porque atacava os seus animais, único sustento.
E o advogado da família diz que “estado de necessidade” é uma modalidade prevista em lei.
O caso seguirá nos tribunais e dividindo a opinião pública.
