Neusa e Gisele denunciaram caso de discriminação em 1998, perderam a ação no país em 2008, mas venceram-na agora na Corte Interamericana
Corpo do artigo
Neusa dos Santos Nascimento e Gisele Ana Ferreira Gomes, ambas mulheres negras, candidataram-se a uma vaga de pesquisadora em São Paulo, mas foram informadas de que todos os lugares estavam preenchidos. No entanto, no mesmo dia, uma mulher branca foi contratada imediatamente.
Como as três candidatas tinham o mesmo nível de escolaridade e experiência profissional, a discriminação racial ficou evidente.
Neusa e Gisele denunciaram então o caso, que começou por gerar uma decisão no Brasil de absolvição por insuficiência de provas, até a Corte Interamericana de Direitos Humanos ter condenado o Estado brasileiro por falhas na investigação, por reprodução de racismo institucional e por falta de diligência por parte das autoridades envolvidas no processo judicial.
O Estado foi condenado pela violação dos direitos à vida digna, à integridade pessoal e à honra, além de ter de indemnizar as vítimas, de pedir-lhes desculpas e de adotar protocolos específicos para julgamento de crimes de racismo.
Mas o mais inacreditável do caso, além do racismo, são as datas. A decisão da Corte Interamericana é do último dia 20 de fevereiro. Até aí tudo bem. Mas a absolvição pelos tribunais brasileiros é de 2008. E a queixa de Neusa e de Gisele é de 1998.
Ou seja, as duas profissionais esperaram 27 anos e uma virada de milénio para ver ser-lhes dada razão. O racismo é crime no Brasil, mas a morosidade da justiça também devia ser.
