João Pedrosa decidiu ficar na cidade chinesa que foi o epicentro do novo coronavírus. Agora, escreve no site da TSF sobre o dia a dia em Wuhan.
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Amanhã, dia 28 de marco de 2020, deverá ser-me possível atravessar os portões do condomínio onde vivo, aqui na cidade de Wuhan.
Há mais de dois meses que me encontro sitiado neste canto do planeta.
Sim, foi um longo tempo de espera e solidão, num local do mundo que não fala a minha língua, mas apesar do contrassenso nunca me senti sozinho.
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À minha volta estavam 11 milhões de almas que, tal como eu, acatavam nos seus lares por uma trégua de paz numa contenda sem igual.
Foi difícil?
Sim! Mentiria se dissesse o contrário, mas malgrado a incoerência não me custou.
Antes de mais, porque o fiz por opção e, porque sabia que o recolhimento era a principal arma para conter o avanço do dissimulado inimigo.
Sabia que lá fora havia "guerreiros de luz" que lutavam, sem medo e sem se queixarem, numa luta corpo-a-corpo contra um Golias colossal.
Sabia que havia "soldados" que morriam de pé, sem cederem aos ventos duma tempestade maléfica.
Foi um tempo de espera?
Sim! Mas foi um tempo de fé e de esperança.
Foi um tempo de solidão?
Sim! Mas foi um tempo de ser solidário.
Foi um tempo de morte?
Sim! Mas foi um tempo de muitas mortes para salvar muitas vidas.
É tempo de desistir?
Não! É tempo de ser vigilante e de proteger o próximo.
É tempo de discórdia?
Não! É tempo de comunhão pelo bem mais preciso da vida e da própria vida.
É tempo de culpar?
Não! É tempo de ajudar e cooperar.
É tempo de chorar?
Não! É tempo de sonhar, certo dum amanha melhor.
É um tempo de paragem?
Sim! Mas, como diz Pessoa, "é o tempo da travessia e, senão ousarmos faze-la, teremos ficado, para sempre a" margem de nos mesmos"
Mantenham-se seguros e saudáveis!
João Pedrosa em Wuhan (27 de Marco de 2020)
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