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Dos bombardeamentos diários à enchente de refugiados nas ruas, na capital do Líbano não é a primeira vez que se vive a guerra. A maioria das gerações já experimentou várias invasões de Israel e uma guerra civil que durou década e meia. A pergunta que se coloca é: quanto tempo vai durar este conflito e quantos vão morrer até chegar a paz?
O outono ainda não chegou a Beirute. A roupa pega-se ao corpo quando se tenta atravessar o caótico trânsito na capital libanesa. Sobre a cabeça dos libaneses pesa o calor e um zumbido permanente. Israel consegue o dom da omnipresença através do seu exército de drones. Têm capacidade para ouvir chamadas, para identificar possíveis alvos e para recolher outro tipo de informações. Os automóveis e as motos dominam o asfalto e, quando necessário, também os passeios. Numa gincana permanente, o transeunte demora uma eternidade a chegar ao seu destino. E, agora, se precisar de usar o GPS, ainda mais. Como uma bússola avariada, muitos dos sistemas de geolocalização indicam como posição não Beirute mas Amã, a capital da Jordânia, a 300 quilómetros de distância. É uma interferência operada por Israel que pretende prejudicar as comunicações e a artilharia do Hezbollah mas que, em última instância, gera problemas nos sistemas civis de geolocalização e pode pôr em risco a aviação civil. Isso aconteceu, especialmente, na noite do ataque sem precedentes do Irão contra Israel com aplicações como o Google Maps, Uber e Bolt a mostrarem localizações erradas. “Geralmente, a interferência no GPS ou o 'spoofing' são utilizados na guerra para perturbar as comunicações e as receções de GPS em zonas de combate ou durante operações militares”, afirmou em abril deste ano ao The New Arab Freddy Khoueiry, analista de segurança global para o Médio Oriente e Norte de África na empresa de análise de risco RANE.
A dura missão de quem salva vidas
Dahieh é, por estes dias, um nome amaldiçoado. Ao contrário do que se pensa, este epicentro dos ataques israelitas em Beirute não é um bairro. Dahieh, em árabe, significa qualquer coisa como subúrbio. E todo o subúrbio a sul da capital libanesa está debaixo de uma chuva permanente de mísseis e bombas. As palavras “cirúrgico” e “seletivo” são adjetivos usados por Israel para definir a alegada eficácia dos seus bombardeamentos. Contudo, em muitos casos, não é assim. O Governo libanês acusa as autoridades israelitas de terem morto, até ao momento, cerca de uma centena de bombeiros e membros de equipas de emergência e resgate. Em apenas algumas semanas, o número de crianças mortas supera já a centena. Muitos hospitais e centros médicos acabaram por fechar por falta de condições de segurança ou pela ameaça de ataques. No centro de Beirute, em Bachoura, Israel atacou um destes centros por estar alegadamente ligado ao Hezbollah. Nesse bombardeamento, morreram nove profissionais de saúde.
Bem perto do aeroporto, o maior hospital público de Beirute, o Rafik Hariri, convive com a proximidade da zona mais atingida pelos ataques. Tem espaço para 550 pacientes. De acordo com Jihad Sade, diretor clínico, as vítimas das bombas de Israel já ocupam 80% do centro hospitalar. “Até ao momento, temos reduzido ao máximo casos que podem ser adiados. Queremos todas as camas para as vítimas da guerra”, explicou. Com uma vasta experiência em cenários de guerra num país objeto de quatro invasões israelitas e uma guerra civil, garantiu que o hospital está preparado para o pior dos cenários. Só os políticos podem resolver o atual conflito, considerou, quando “houver respeito entre todos”. Para tal, há que dar direitos aos palestinianos. “A força é temporária e o conflito não vai acabar se não respeitarem os seus direitos”, sublinhou.
Capacetes azuis criticam Israel
A Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) emitiu um comunicado no qual se mostrou “profundamente preocupada” com as operações das forças israelitas junto da posição dos capacetes azuis irlandeses a sudeste de Marun as Ras, na fronteira do Líbano. A situação está a gerar controvérsia uma vez que isto põe em risco a segurança das forças de manutenção de paz da ONU e a sua missão a cargo do Conselho de Segurança. Nesse sentido, a UNIFIL recordou a todos os intervenientes “as suas obrigações de proteção do pessoal e dos bens da ONU”. Esta manhã, o Hezbollah acusava Israel de usar os capacetes azuis como escudos humanos e afirmava que não ia responder com fogo às forças israelitas para não pôr em risco os soldados irlandeses.