Para quem faz da navegação turística um modo de vida pelos mares do mundo, a conjuntura é tão adversa, como por vezes, os ventos e marés.
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Todas as rotas marítimas turísticas vão dar a Génova, para mais uma edição da Cruise Week Europe, que entre 11 e 14 de março, vê entrar no convés de mais uma cimeira do sector, politicos europeus, líderes mundiais das principais companhias navais e altos representantes de instituições internacionais, incluindo 200 portos mundiais. O evento organizado pela Associação Internacional de Cruzeiros inclui pela primeira vez, uma “Innovation Expo” com mais de 110 expositores.
Para quem faz da navegação turística um modo de vida pelos mares do mundo, a conjuntura é tão adversa, como por vezes, os ventos e marés. Por isso, torna-se imperativo falar do presente e futuro da indústria dos cruzeiros.
Os desafios são comuns a todos os stakeholders, desde estaleiros navais, a autoridades portuárias e terminais, a ONGs, ou outro tipo de organizações ligadas à atividade.
Entre os participantes, estão portugueses, como, Paula Cabaço, presidente do Portos da Madeira, mas também Eduardo Cabrita, diretor geral da MSC Cruises, para quem a cimeira vai ser a oportunidade para toda a comunidade apresentar os desenvolvimentos de projetos que têm vindo a se feitos a nível global, para atracar em 2050 com uma navegação com zero de emissões de CO2, cumprindo a legislação europeia prevista no “GeenDeal”, na luta contra as alterações climáticas.
O gestor dá exemplo, da utilização de eletricidade verde para reduzir emissões dos navios quando estão atracados, como é o caso de Lisboa, que tem previsto um investimento de 37 milhões neste domínio, para operacionalizar até 2026.
A bússola está assim apontada à descarbonização e ao recurso à tecnologia nas infraestruturas e operações, mas na linha do horizonte permanecem desafios, depois de 3 anos de operações reduzidas por causa da pandemia.
O regresso à trajetória de crescimento, só aconteceu neste sector em 2023, ano em que o turismo de cruzeiros terá atingido 31.5 milhões de passageiros.O sector espera, pela capacidade de instalar novos navios todos os anos, conseguir alcançar os 40 milhões de passageiros até 2027.
De acordo com dados avançados ainda por Eduardo Cabrita, a intenção de fazer cruzeiros é maior agora, do que era antes do aparecimento da Covid19. 85% dos passageiros de cruzeiros, querem regressar a bordo e cerca de 2/3 dos que nunca fizeram um cruzeiro, estão abertos a essa experiência e a idade média dos que querem fazer uma viagem de cruzeiro está agora entre os 40 a 45 anos, quando há 20 anos rondava os 60 anos. O empresário conclui que as perspetivas de crescimento são excelente, a melhoria da oferta é cada vez mais vasta e existe uma ascensão dos cruzeiros de luxo.
Se considerarmos efeitos diretos e indiretos, do impacto dos cruzeiros na economia portuguesa, gera cerca de 840 milhões de euros de produção, outros 336 milhões de euros em valor acrescentado e 8 863 empregos. Há ainda um detalhe sobre Lisboa, uma família oriunda de cruzeiros, gasta em média 164 euros por estadia, ou 75 euros em caso de navios em trânsito e 773 euros no caso dessa família embarcar, ou desembarcar na capital portuguesa. Só no ano de 2023 a atividade dos cruzeiros teve um impacto direto só na cidade de 83 milhões de euros, de acordo com o relatório oficial de acompanhamento da atividade, relativo a outubro de 2023.
Quanto aos portos, incluindo, Leixões, Funchal, entre outros, atingiram números considerados substanciais pelo sector, o ano passado. Lisboa alcançou quase 760 mil passageiros, ou seja, mais 54% em relação ao ano anterior. O Funchal subiu 51% com 625 mil visitantes e Leixões obteve mais 27% praticamente nos 150 mil, o que tornou 2023, o melhor ano de sempre deste sector para Portugal.
A nível europeu, as empresas de cruzeiros estão a investir um total de 59 mil milhões de euros em 44 novos navios que estarão prontos a zarpar pelos mares nos próximos 5 anos e 90% destas embarcações são construídas na Europa, cumprindo o desígnio, adianta o gestor, de que é essencial que este tipo de produção fique em território europeu, porque 85% da carteira de encomendas são de navios-cruzeiro e destes, 75% da frota pode utilizar combustíveis sustentáveis, quando estiverem disponíveis, em grande escala. O que para Eduardo Cabrita, significa que os stakeholders europeus estão preparados, só precisam que o mundo também esteja preparado e que esse tipo de combustíveis existam para se poder concretizar a descarbonização da melhor forma.
Sessenta por cento dos navios com estreia prevista entre 2023 e 2028 irão depender do combustível LNG (Gás Natural Liquefeito) para a sua propulsão primária e existem vários portos a trabalhar para que tal possa ser uma realidade, uma vez que neste momento, apenas existem 29 portos em todo o mundo que tem a possibilidade de ligar um navio à energia elétrica. Esta é uma capacidade que o sector conta expandir a todos antes de 2030 - “praticamente em 2028 contaremos com quase 80% do total de navios com esta capacidade e se tudo correr bem, estarão” - adianta ainda Eduardo Cabrita. O sector considera estar na vanguarda da tecnologia, mas o gestor considera que precisa que todos os governos, todos as autoridades e todos os fornecedores, possam também desempenhar o seu papel, para transformar o sector marítimo antes de 2050, considerando que já dá provas de que tal objetivo, é exequível.
Portugal é considerado um interveniente fundamental na região denominada, Bacia do Mar Atlântico da Europa, em que os 4 portos principais do continente, Lisboa, Leixões, Setúbal e Portimão, mas também os das regiões insulares da Madeira e dos Açores, assumem importância, porque encontram-se numa região geoestratégica, que nos próximos anos, vai registar um aumento significativo da atividade, por ter sido sempre a última região de ligação ao Mediterrâneo mais proeminente sobre o sector dos cruzeiros.
À TSF, Eduardo Cabrita realça que “só a partir de 2023 e em 2024 começamos a perceber que as companhias estão muito mais predispostas com a sua capacidade extra de navios, a terem outros itinerários, que não nas rotas denominadas mais normais, Mediterrâneo Oriental, Ocidental, ou, norte da Europa. Vemos agora, algumas companhias com cruzeiros com saída e chegada a Lisboa e também cruzeiros com saída e chegada ao Funchal entre 2024 e 2025, portanto, conclui, “Portugal passa a estar na rota dos cruzeiros e isso é uma mais-valia para os passageiros portugueses”.
O turismo de cruzeiros em Lisboa, não contribui para a sobrecarga turística da cidade, reduz a sazonalidade e proporciona um fluxo mais constante de turistas, conclui ainda o último relatório da atividade divulgado há 6 meses. O pico do estado de afluência, registado entre a Primavera e o Outono, diminuiu significativamente no Verão, quando a carga global turística de outros sectores foi maior.
Já sobre a qualidade do ar em Lisboa existe um estudo feito pela universidade de Tarragona, balizado pela londrina, Oxford of Economics School, para a CLIA, que analisou vários factores, durante alguns anos, como, a circulação automóvel, aérea e marítima, entre outros parâmetros e conclui que seriam necessários muitos mais navios atracados, do que os 4 que atualmente é possível amarrar no Porto de Lisboa, para que a qualidade do ar na capital portuguesa atingisse níveis médios de poluição, de acordo com os valores standards da União Europeia.
São apenas alguns temas a abordar por estes dias, em Génova, na Cruise Week Europe da CLIA, organizada em parceria com a Região da Ligúria, a autarquia local e ainda com os Portos desta cidade italiana, bem como, com a Câmara de Comércio de Génova.
