Estado francês começa esta quarta-feira a julgar os alegados cúmplices dos autores do atentado contra a revista satírica Charlie Hebdo. "O início deste julgamento é ocasião para lembrar que a luta contra o terrorismo islâmico é uma prioridade do governo, e que exige uma mobilização total", referiu o ministro do Interior francês.
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Em 2015, três extremistas islâmicos franceses mataram 12 jornalistas do jornal satírico francês Charlie Hebdo, uma polícia e quatro clientes do supermercado Hyper Cacher. O julgamento destes ataques terroristas, que marcaram o início de uma série de atentados islamitas em França, começa esta quarta-feira, 2 de setembro, na capital francesa.
No banco dos réus sentam-se catorze cúmplices dos atentados, pessoas suspeitas de terem prestado apoio logístico aos irmãos - Said e Chérif Kouachi e a Amedy Coulibaly, autores dos ataques que mataram 17 pessoas entre 7 e 9 de janeiro de 2015.
Acontecimentos dos dias 7, 8 e 9 de janeiro de 2015
No dia 7 de janeiro de 2015, os irmãos Said e Chérif Kouachi assassinaram 12 pessoas, entre elas alguns dos caricaturistas franceses mais conhecidos da redação do jornal Charlie Hebdo, depois do semanário ter publicado caricaturas do profeta Maomé.
A 8 de janeiro, Amédy Coulibaly matou Clarissa Jean-Philippe, polícia de 27 anos, durante uma operação em Montrouge, nos arredores de Paris.
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Após três dias de ataques consecutivos, no dia 9 de janeiro, Amedy Coulibaly assaltou um supermercado no leste de Paris, acabando por matar quatro homens. Coulibaly gravou um vídeo a reivindicar os ataques, coordenados e cometidos em nome do grupo jihadista do autoproclamado Estado Islâmico, acabando por ser morto pela polícia. Os irmãos Kouachi morreram na gráfica onde se tinham-se refugiado em Dammartin-en-Goele, nos subúrbios de Paris.
Apesar da morte dos três terroristas, a justiça francesa procura condenar todas as pessoas envolvidas nos atentados.
Entre os 14 suspeitos, três serão julgados à revelia: a companheira de Coulibaly, Hayat Boumedienne, e os irmãos Mohamed e Mehdi Belhoucine, que viajaram para a Síria e Iraque poucos dias antes dos ataques. Segundo várias fontes, os três cúmplices estariam mortos, mas a informação nunca foi confirmada e continuam a ser procurados pelas autoridades francesas.
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Mohamed Belhoucine, o mais velho dos dois irmãos, e Ali Riza Polat, um francês de origem turca, são acusados de "cumplicidade" com crimes terroristas, uma acusação que os pode condenar à prisão perpétua.
Os outros suspeitos serão julgados por associação com um grupo terrorista, um crime punido com até 20 anos de prisão.
Lutar contra o terrorismo islâmico é uma prioridade do governo francês
A faltarem dois dias para o início do julgamento, o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, anunciou que 8.132 pessoas estão registadas na base de dados e sob vigilância de forma a prevenir radicalizações terroristas em França.
Gérald Darmanin sublinhou que possíveis ameaças terroristas "continuam elevadas no território" francês. O ministro do Interior francês indicou que desde 2013 foram neutralizadas 61 tentativas de atentados, 32 delas desde 2017, recordando que no início do ano os serviços secretos frustraram um grande atentado.
O principal magistrado antiterrorismo em França, Jean François Ricard, enumera algumas ameaças terroristas em França: "sabemos, sem poder avançar detalhes, que há cidadãos franceses envolvidos em atentados que estão em liberdade no norte da Síria e da Turquia. Existem várias formas de ameaças por parte de antigos membros do (autoproclamado) Estado Islâmico, que conseguiram passar fronteiras e chegar a França com objetivo de levantar novas estruturas do grupo terrorista", descreveu o magistrado.