Da agricultura ao crescimento da extrema-direita: as maiores preocupações nas eleições europeias
Especialistas de várias áreas discutiram, no Fórum TSF, as diversas prioridades que estão em jogo nas próximas eleições europeias de 9 de junho
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A precisamente um mês das eleições para o Parlamento Europeu, o secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Luís Mira, em declarações no Fórum TSF, defendeu que a agricultura deve estar na primeira linha das preocupações e pediu uma revisão das regras da política agrícola comum.
"Há uma guerra na Europa e isso vai condicionar toda a política europeia e com certeza que também a necessidade da União Europeia ter soberania alimentar é uma questão de primeira linha. A PAC vai ter que se reajustar a esse objetivo que tinha um pouco em terceira prioridade. Porquê? Porque a PAC desde a sua reforma de 1992, o único objetivo que teve foi poupar dinheiro e agora, nestas últimas reformas, ter uma política agrícola mais ambiental", afirmou Luís Mira.
O general Pinto Ramalho, ex-chefe do Estado-Maior do Exército e presidente do Grupo De Reflexão Estratégica Independente, defendeu que nesta altura na Europa há uma pergunta essencial.
"Como é que vamos acabar com a guerra? A guerra é para se manter durante vários anos até que a Ucrânia tenha a hipótese de vencer este conflito? Isso é um ponto de interrogação muitíssimo grande que nos leva a pensar como é que vai vencer, de que apoios é que necessita? De que tipo de apoios é que vai necessitar e durante quantos anos é que isso se vai manter ou se realmente vamos analisar este problema de uma forma distinta, que é, como temos ouvido alguns dos candidatos nesta eleição do lado português, que têm também visões sobre esta matéria de que enfim, quando se diz que não podemos deixar a Rússia ganhar, temos que vencer a guerra, cabe aqui a questão de nos interrogarmos, todos nós portugueses, por exemplo, como é que vamos vencer, com que meios e o que é que é necessário e o que é que vamos empregar?", questionou Pinto Ramalho.
Numa altura em que se discute a importância do voto a 9 de junho, o professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto e antigo coordenador do núcleo de economia e finanças da representação permanente de Portugal junto da União Europeia, Rui Henrique Alves, nota no Fórum TSF que raramente as campanhas eleitorais discutem temas europeus e refere que isso afasta os eleitores.
"Se nós olharmos para o que costuma ser a pré-campanha eleitoral e a campanha eleitoral para as eleições europeias, raramente vemos discutir os temas europeus e eu confesso que não me recordo de, nas várias eleições europeias que já acompanhei em Portugal, ouvir falar de temas europeus. Normalmente falam-se dos temas nacionais, das tricas nacionais, dos casinhos do momento e tudo o que é temas europeus vai passando ao lado. Naturalmente, com isso, as pessoas poderão pensar que não vale a pena ir votar porque isto não interessa", explicou Rui Henrique Alves.
O professor identificou também os desafios económicos que se colocam à Europa.
"Nós estamos ainda a recuperar do período da pandemia com a ajuda da famosa bazuca, dos planos de recuperação e resiliência, e tem este desafio de os colocar em prática até 2026, que é neste momento o limite. Tem o desafio de responder de forma eficiente à transição climática e à transição digital, tem agora novos desafios muito importantes na área da segurança e da defesa, tem desafios importantes no sentido de se tornar menos dependente de outras áreas geopolíticas a nível internacional. Para tudo isto são necessárias reformas e, sobretudo, investimentos de grande monta", referiu o professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
Já Paulo Sande, especialista em assuntos europeus, defendeu que o crescimento da extrema-direita vai necessariamente mudar a Europa.
"Um aumento da participação e da presença de partidos que querem mudar a Europa, porque é sobretudo esse discurso e depois são muito diferentes entre si. Vai necessariamente alterar o equilíbrio de forças no Parlamento Europeu. Equilíbrio, aliás, muito antigo e terá consequências que neste momento são impossíveis de antecipar, para já porque há dois grupos dentro do Parlamento Europeu onde esses partidos se irão integrar, dois grupos que são distintos também porque eles mesmos em relação à Europa também têm posições muito distintas umas das outras, havendo partidos mais radicais do que outros nessa relação com a Europa e porque também ainda não conhecemos os resultados e veremos como é que o próximo Parlamento, com 720 deputados, vai ser constituído", acrescentou Paulo Sande.
