Da periferia de S. Paulo a Harvard. Tabata, a astrofísica de 24 anos eleita deputada
Conseguiu mais de 250 mil votos e foi a sexta deputada federal mais votada no Estado da maior cidade do Brasil. Defende que o país precisa de mais democracia (e não menos), mais educação e menos militarização.
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Nasceu e cresceu na periferia de São Paulo. Por ser tão boa aluna, conseguiu uma bolsa para estudar num colégio. Aos 18 anos, foi estudar para fora, foi aceite em seis das principais universidades dos Estados Unidos da América e escolheu Harvard. Formou-se em Ciência Política e Astrofísica. Voltou ao Brasil e ajudou a criar dois movimentos nacionais: o Mapa da Educação e o Acredito.
Como se tudo isto fosse pouco, Tabata concorreu a deputada federal nestas eleições, e conseguiu quase 265 mil votos, sendo a sexta mais votada para deputada pelo Estado de São Paulo.
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Sobre tudo isto, a deputada eleita diz que é o resultado de muitas oportunidades, num país profundamente desigual.
"De certa forma eu sou um ato da desigualdade, então eu tive muitas oportunidades na educação num país onde ninguém tem oportunidade. Mas eu pude viver de muito perto a falta que a educação faz na vida das pessoas, mas a falta que ela faz fisicamente, o quanto ela leva à indignidade. Quando você vê esses dois lados de maneira tão profunda isso cria uma contradição muito grande na sua cabeça, e você tem de fazer alguma coisa. A resposta que eu encontrei em tudo isso foi trabalhar com a educação", afirma.
Daí à política, e à consequente campanha eleitoral, foi um passo curto e rápido. Tabata revela à TSF que chegaram a perguntar-lhe se ela podia mesmo concorrer, tal o espanto por vê-la ali.
"Quando eu estava na rua, eu quase não falava da minha formação. As pessoas não sabem muito o que é astrofísica ou Harvard, é meio complicado. Mas eu falava muito da realidade de onde eu venho. Então as pessoas sempre diziam três coisas: uma, era que valorizavam eu vir do mesmo lugar que elas - eu uso o sistema de saúde público, eu estudei em escola pública, eu pego ônibus, e essa falta de conhecimento na política falta mesmo, não existe -; as pessoas também valorizavam eu não ser vista como radical. Eu não era Lula, mas também não era Bolsonaro. Eu era uma coisa diferente ali no meio do caminho, isso já quebrava uma certa barreira. Também se valorizava o facto de eu trabalhar por aquilo há muito tempo, então ninguém me acusava de ser corrupta ou de querer dinheiro. Eu abandonei muita coisa para querer entrar, me acusavam de ser ingénua, e essa era a barreira que eu tinha de quebrar", conta Tabata.
Tabata foi eleita pelo PDT, o Partido Democrático Trabalhista, e não tem dúvidas de que terá melhores condições para exercer a função de deputada federal num país liderado por Fernando Haddad. Ela defende que o Brasil precisa de mais democracia e não menos, mais educação e menos militarização.
"O meu voto vai para Fernando Haddad. Uma coisa é você ser oposição dentro de uma democracia forte, e tem muita coisa que, na minha opinião, o PT fez de bom. Mas tem muita coisa que precisa de ser remediada, muita coisa que tem de ser mudada. Mas tudo isso é permitido no momento em que a democracia funciona, num momento em que eu não sou atacada na rua por ser mulher, ou por não defender o Bolsonaro", defende.
"A gente está vivendo um momento de violência verbal, violência física, e isso não é saudável para ninguém. Quando você questiona tanto de reserva indígena a um candidato que quer militarizar a escola pública brasileira, a um candidato que reforça discursos de ódio, num Brasil tão preconceituoso como o nosso tem, sim, um efeito muito claro", conclui.