Das mentiras à tentativa de destituição. Os três anos de Donald Trump na Casa Branca
Um dia depois de Donald Trump ter entrado na Casa Branca, começou a contabilidade diária das mentiras ou inverdades do presidente. O último balanço geral, feito já este mês, somava 16.241 casos.
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São muitos os órgãos de comunicação social, e até páginas da internet, que se dão ao trabalho de fazer as contas. Um dos mais minuciosos é o Washington Post, que criou o site Fact Checker , que garante que, no primeiro ano de mandato, foram detetadas 1999 mentiras. Em 2018, o número subiu para 5689 e em 2019 bateu todos os recordes, com mais de 7700 declarações falsas. Nos primeiros dias de 2020 já estão contadas 828 mentiras.
Há temas em que o presidente não resiste a apresentar a sua versão dos factos. Os favoritos são o bom estado da economia, a construção do muro na fronteira sul, a investigação do procurador especial Robert Muller, os impostos, a imigração e a relação com a China.
Desde o início da investigação ao telefonema entre Trump e o presidente da Ucrânia, que levou ao processo de destituição, o chefe de Estado norte-americano intensificou o discurso com mentiras ou inverdades.
O Presidente parece acreditar que pode enfrentar o julgamento, que começa esta terça-feira no Senado, repetindo falsidades que são facilmente refutadas. Por exemplo, disse mais de 60 vezes que a denúncia sobre o telefonema era imprecisa. A transcrição da conversa mostrou, no entanto, que muitos dos detalhes eram verdadeiros. Trump também afirmou mais de 80 vezes que o telefonema com o Presidente ucraniano foi "perfeito", apesar de ter causado alarme em diversos funcionários da Casa Branca que manifestaram objeções.
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Seja quais forem os casos, ou escândalos, da administração, o último ano de mandato vai ser marcado por este processo. Os senadores responsáveis pelo julgamento já juraram exercer as funções com imparcialidade, mas o Senado está dividido, praticamente, ao meio. Os republicanos têm uma pequena vantagem e o desfecho do processo vai depender da possibilidade de alguns democratas ou republicanos mudarem de lado. Para já, a absolvição está garantida.
O caso já foi julgado no Congresso e aí Donald Trump foi destituído por abuso de poder e obstrução ao trabalho dos congressistas. Em causa está a acusação de que Trump reteve ajuda militar à Ucrânia, tentado que o Presidente Zelinski anunciasse a abertura de uma investigação ao filho de Joe Biden, o antigo vice-presidente de Obama e candidato às primárias democratas.
A Casa Branca começou por negar qualquer tentativa de pressão, mas, depois de tudo o que foi divulgado, vai escolher outra forma de defesa. A equipa de advogados, entre eles Kenneth Starr - que foi o responsável pelo processo de destituição de Bill Clinton -, vai optar por uma defesa baseada nos argumentos que um antigo juiz usou durante o processo ao presidente Andrew Johnson, em 1868 (é preciso haver conduta criminal para aprovar a destituição).
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O professor emérito de Harvard Alan Dershowitz, que faz parte da equipa de defesa, já disse em diversas entrevistas que os artigos de destituição aprovados pelo Congresso não justificam que seja adotada a sanção mais grave aplicada a um Presidente, alegando que o abuso de poder não está entre os critérios constitucionais para o afastamento, por não ser uma conduta censurável criminalmente.
A defesa do Presidente prepara-se ainda para ignorar todas as provas recolhidas, dizendo que a retenção da ajuda em troca de favores políticos - neste caso, da Ucrânia - está dentro da prerrogativa de um chefe de Estado e que o Congresso não tem o poder de investigar um caso destes.
Neste julgamento, os democratas querem que os americanos se apercebam de que a liderança republicana está a defender um presidente corrupto; já os republicanos querem acelerar o processo fazendo um julgamento sem testemunhas ou provas.