A UE segue o modelo das vacinas e vai produzir e comprar armas em conjunto. A proposta foi apresentada pela Comissão Europeia em Bruxelas. A TSF ouviu Sofia Moreira de Sousa, representante da Comissão em Portugal.
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A Comissão Europeia adotou esta tarde em Bruxelas aquilo que pretende que venha a ser o reforço da capacidade industrial de defesa dos 27 estados membros. A TSF perguntou a Sofia Moreira de Sousa, chefe da representação da Comissão Europeia em Portugal, se este foi um ato de coragem por parte da Europa?
“É um sinal de resposta aos tempos que vivemos. É uma estratégia industrial de defesa que visa melhorar a eficácia na produção de armamento na Europa pelas indústrias europeias. Portanto, o objetivo é de apoiar os Estados Membros a investir mais, melhor e em conjunto a nível europeu. Isto porque, por exemplo, nestes 2 últimos anos, os 27 Estados Membros, gastaram mais de cem mil milhões de Euros em aquisições de armamento e de equipamento militar e deste valor, cerca de 80% foi para o estrangeiro, ou seja, foram aquisições feitas fora do espaço europeu”
A proposta da Comissão é termos uma estratégia industrial de defesa que visa capacitar e aumentar a competitividade das empresas europeias para “assegurar e contribuir para a nossa Independência e soberania nesta matéria, porque muitas vezes estas cadeias de abastecimento de armamento podem eventualmente não ser capazes de dar resposta e, portanto, é esse o objetivo desta proposta”.
Resta saber quando vai ter efeito prático esta estratégia para dar resposta às necessidades ucranianas, nomeadamente em matéria de munições, com promessas que até agora, os europeus não têm conseguido cumprir e em relação às quais a Ucrânia se tem queixado bastante. A representante da Comissão em Portugal dirige a resposta para o que já tem sido feito:
“A União Europeia está a fornecer à Ucrânia ajuda militar, ajuda financeira, ajuda humanitária, mas também ajuda militar. E a questão sobre esta estratégia é precisamente para aumentar a capacidade da indústria Europeia de produzir mais equipamento militar. Uma das características desta estratégia é a possibilidade também de a indústria militar e da defesa da Ucrânia se associar às congéneres europeias para, em conjunto, melhorar a eficácia nessa produtividade. Portanto, neste sentido, a indústria ucraniana vai trabalhar de mãos dadas com a indústria Europeia e beneficiar destas possibilidades que se pretende fomentar no desenvolvimento da produtividade industrial na Europa”.
A Comissão liderada por Ursula Von Der Leyen tenta aplicar à compra de armas a bem sucedida estratégia de compra conjunta de vacinas, admite a diplomata portuguesa que foi representante da União Europeia em Cabo Verde, antes de assumir as atuais funções em Lisboa:
“Sem dúvida que o sucesso que tivemos com a compra conjunta das vacinas e com o investimento feito, precisamente, na descoberta também dessas vacinas, com todo o empenho tecnológico e de investigação que foi feito, serviu, digamos assim, para nos inspirar outros mecanismos. Por exemplo, a compra conjunta de gás natural. A resposta conjunta também à estagnação económica causada pela pela pandemia e obviamente que a Comissão Europeia coloca à disposição dos seus Estados Membros uma moldura e um quadro que permite e incentiva o trabalho conjunto”, algo que acontece a partir de agora, com a indústria do armamento”. Até porque, reconhece a representante da Comissão, “vemos muitas vezes a falta de interoperabilidade até de sistemas e de equipamento dos diferentes exércitos dos diferentes Estados Membros. E, portanto, obviamente, se houver uma compra conjunta e um trabalho conjunto de empresas de armamento a nível europeu, depois esta interoperabilidade estará muito mais facilmente assegurada, comparativamente a estarmos dependentes de compras externas, a parceiros exteriores e, portanto, neste sentido, aquilo que aprendemos com as respostas bem-sucedidas que foram dadas à pandemia é que, quando trabalhamos em conjunto e de forma coordenada, conseguimos respostas bem mais eficazes e muito melhores para todos, para dar resposta àquilo que sentimos no espaço europeu, neste caso concreto, assegurar a segurança dos cidadãos”.