O primeiro-ministro britânico faz hoje, em Londres, um discurso sobre a estratégia do Reino Unido para a União Europeia, que defende, entre outros aspetos, a renegociação das relações com Bruxelas.
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David Cameron tinha escolhido a Holanda, um dos países fundadores do projeto europeu, para pronunciar o discurso na passada sexta-feira, mas foi obrigado a cancelar a intervenção por causa do ataque terrorista contra um campo de gás no centro-leste da Argélia, onde entre os reféns estavam cidadãos britânicos.
O chefe do governo britânico está a preparar este discurso há cerca de seis meses, uma intervenção que é muito aguardada pela ala eurocética do Partido Conservador, que defende a convocação de um referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia (UE) e critica uma excessiva interferência por parte de Bruxelas.
David Cameron já reiterou por diversas ocasiões que apoia renegociar os termos de adesão à UE, de forma a repatriar poderes de Bruxelas para Londres, mas também tem vindo a reiterar que apoia a permanência do Reino Unido na UE, principalmente por causa dos benefícios do mercado europeu (cerca de 40 por cento das exportações britânicas estão concentradas na Europa).
A estratégia de Cameron ameaça causar atritos com os liberais-democratas, os parceiros da coligação governamental, apoiantes do projeto europeu, que consideram que é uma «aposta perigosa» que acabará por afastar investimentos estrangeiros num momento em que o país precisa.
Existe uma grande expectativa sobre se o chefe do Governo britânico vai assumir o compromisso de convocar um referendo sobre a UE, informação que não constava de excertos do discurso divulgados por Downing Street na semana passada.
Segundo o texto, Cameron vai advertir que o Reino Unido poderá refletir sobre uma eventual saída da UE se não existir uma mudança de funcionamento. A Europa «deve mudar para criar prosperidade e manter o apoio dos seus povos», diz o excerto divulgado.
«Se não enfrentarmos estes desafios, o perigo é a Europa fracassar e o povo britânico irá dirigir-se para a saída. Não quero que isto aconteça. Quero que a UE seja um sucesso e uma relação entre o Reino Unido e a UE que nos mantenha nela», acrescentou o mesmo documento.
Cameron também enfrenta a forte pressão das sondagens de opinião. Segundo as últimas sondagens, cerca de 42 por cento dos britânicos defendem que o país deve sair da UE, contra 36 por cento que afirmam que o Reino Unido devem continuar Estado-membro.
O discurso de Cameron coincide com os 40 anos da entrada do Reino Unido na Comunidade Económica Europeia (CEE), processo conduzido pelo então primeiro-ministro britânico, o conservador Edward Heath.