De conselheiro de Trump, a colaborador da Justiça. Michael Flynn vai conhecer sentença
Michael Flynn declarou-se culpado de ter mentido ao FBI sobre contactos com o embaixador russo. O procurador especial recomendou que ele não seja condenado a uma pena de prisão efetiva.
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Num parecer enviado ao Tribunal Federal, Robert Mueller explicou que Flynn se reuniu 19 vezes com a equipa de investigação. Durante esses encontros, o que disse foi decisivo para traçar o rumo da investigação que ainda está a decorrer.
Desde que despediu Michael Flynn, um mês depois de assumir funções, Donald Trump elogiou sempre o antigo colaborador mas isso parece ter acabado quando foi conhecida a recomendação de Mueller.
Trump, que é sempre rápido a reagir, desta vez evitou o caso nos dez tweets que publicou nesse dia. Só no final da semana passada, o Presidente voltou a escrever sobre o antigo conselheiro no twitter: "Eles deram um bom acordo ao general Flynn porque ficaram constrangidos com a maneira como foi tratado - o FBI disse que ele não mentiu e eles ignoraram isso. Eles querem assustar as pessoas e levá-las a inventar histórias, apanhando-as em pequenas contradições. Triste!"
Interrogado sobre a razão que levou Trump a não reagir de imediato ao parecer sobre Michael Flynn, o advogado do Presidente, Rudy Giuliani, disse ao HuffPost que não havia razão para isso porque o antigo conselheiro de Segurança Nacional não terá dado a Robert Mueller qualquer informação que comprometa o chefe de Estado.
O Presidente nomeou Flynn mesmo depois de ter sido avisado por Obama, que tinha despedido o general em 2014, quando este trabalhava no Pentágono. De repente, Flynn, que tinha estado na liderança de tropas no Iraque e Afeganistão, viu-se reformado e na vida civil.
O antigo militar criou uma empresa que começou a trabalhar com autoridades estrangeiras, incluindo a russa, mas nunca registou essa atividade, o que é obrigatório pela lei norte-americana. Michael Flynn passou a integrar o grupo daqueles que consideravam que Barack Obama não estava a defender o país contra a ameaça muçulmana. Daí até se juntar a Donald Trump, foi um passo.
Ele foi um conselheiro muito próximo do atual Presidente durante toda a campanha e acabou por ser escolhido para o cargo de conselheiro de Segurança Nacional. Logo depois de Donald Trump ter iniciado funções, a Procuradora-geral, Sally Yates, denunciou que Flynn mentiu ao vice-Presidente Mike Pence, ao negar ter falado com o embaixador russo sobre as sanções americanas.
Inicialmente, o conselheiro recusou demitir-se, mas Trump acabou por fazê-lo menos de um mês depois de ter entrado na Casa Branca. O presidente justificou a decisão com o facto de Flynn ter mentido a Pence, mas defendeu que os contactos com a Rússia não tinham sido feitos à margem da lei.
Desde o ano passado, quando se declarou culpado, houve dúvidas sobre o que o antigo conselheiro tinha decidido fazer. Os apoiantes de Trump sempre defenderam que ele foi forçado a confessar algo que não fez. Agora, e de acordo com o relatório de Robert Mueller, sabe-se que Flynn tem ajudado os investigadores há mais tempo e em mais investigações do Departamento de Justiça do que se pensava.
Os detalhes sobre as informações que Michael Flynn deu ao procurador especial não são conhecidos, já que nos documentos divulgados publicamente a maior parte do texto está riscada a negro. Há pelo menos três investigações ainda a decorrer e revelar algumas informações pode prejudicá-las. Os advogados do antigo general, no pedido de clemência que fizeram ao tribunal, esclareceram que mesmo antes de se declarar culpado, Flynn esteve reunido cinco vezes com a equipa de Mueller. Entregou milhares de documentos e até levou à abertura de um novo inquérito por um crime que os investigadores desconheciam. Os advogados de defesa pedem, por isso, que ele seja condenado com pena suspensa e obrigado a cumprir serviço comunitário.
Apesar da recomendação do procurador especial, o juiz Emmet Sullivan, que esta terça-feira decide o futuro do antigo militar, pode optar por uma pena efetiva até seis meses, tendo em conta a gravidade dos crimes. Apesar de tudo, Flynn tem melhores hipóteses do que há um ano, quando se confessou culpado. Nessa altura, todos acreditavam que ele seria condenado a uma longa pena.