De Portugal ao Irão. Como o mundo reagiu à invasão do Capitólio
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O mundo foi surpreendido quando no fim da tarde de quarta-feira os apoiantes de Donald Trump entraram em confronto com as autoridades e invadiram o Capitólio, em Washington, enquanto os membros do congresso estavam reunidos para formalizar a vitória do Presidente eleito, Joe Biden, nas eleições de novembro. O tumulto resultou em quatro mortes e mereceu a reação de vários líderes mundiais, desde Portugal até ao Irão.
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Costa condena incidentes no Capitólio e pede transição ordeira do poder
O primeiro-ministro português, António Costa, considerou o episódio inquietante, salientando que o resultado das eleições presidenciais norte-americanas deve ser respeitado, dando lugar a uma transição pacífica e ordeira do poder.
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Esta posição foi transmitida pelo líder do executivo português na sua conta pessoal na rede social Twitter, numa mensagem em que diz estar a acompanhar "com preocupação os desenvolvimentos em Washington".
Acompanho com preocupação os desenvolvimentos em #Washington. São imagens inquietantes. O resultado das eleições deve ser respeitado, com uma transição pacífica e ordeira do poder. Confio na solidez das instituições democráticas dos #EUA.
- António Costa (@antoniocostapm) January 6, 2021
Presidente da Assembleia da República condena "bárbara invasão"
O presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, condenou nesta quinta-feira a "bárbara invasão" do Capitólio, em Washington, e felicitou a democrata Nancy Pelosi pela sua reeleição para presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos.
Estas posições foram transmitidas por Ferro Rodrigues numa carta que endereçou a Nancy Pelosi, em que a felicitou pela sua reeleição, mas em que também condenou os incidentes causados por apoiantes de Donald Trump, na quarta-feira, no Capitólio.
"Ao tomar conhecimento da reeleição de vossa excelência como presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos da América, cumpre-me felicitá-la vivamente, em meu nome e em nome da Assembleia da República de Portugal, bem como endereçar-lhe os votos de maiores sucessos no exercício de funções neste quarto mandato", escreveu Ferro Rodrigues na carta que dirigiu a Nancy Pelosi.
No plano das relações luso-americanas, Ferro Rodrigues manifestou depois o "empenho pessoal, da Assembleia da República de Portugal e dos seus deputados, no aprofundamento das relações" entre as instituições, "na convicção de que a cooperação interparlamentar assume uma inequívoca importância no estreitar do relacionamento entre os Estados Unidos da América e Portugal", e entre os dois "povos amigos".
"Não posso deixar ainda de, nesta oportunidade, transmitir a vossa excelência a mais profunda condenação pela bárbara invasão perpetrada no Capitólio, sede do Congresso dos Estados Unidos da América, que conduziu à interrupção da sessão conjunta com o Senado, condicionando o exercício do mandato dos representantes eleitos democraticamente pelo povo americano", salientou o presidente da Assembleia da República.
Para Ferro Rodrigues, o que aconteceu no Capitólio, na quarta-feira, foi "um ataque às Instituições, à lei e à ordem".
Angela Merkel "triste" e "zangada" com invasão do Capitólio
Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel disse estar "triste" e "zangada" com a invasão do Capitólio, considerando que o presidente cessante tem uma parcela de responsabilidade.
"Lamento profundamente que o presidente Donald Trump não tenha admitido a sua derrota desde novembro e ontem [quarta-feira]", disse o chanceler alemã aos jornalistas.
Angela Merkel considera que "as dúvidas sobre o resultado da eleição foram alimentadas e criaram a atmosfera que tornou possíveis os acontecimentos de quarta-feira em Washington".
Macron defende democracia e condena invasão do Capitólio
O presidente francês, Emmanuel Macron, transmitiu esta quarta-feira uma mensagem de apoio à "democracia dos Estados Unidos" criticando a invasão do Capitólio em Washington e sublinhando que "o que aconteceu em Washington não é, sem dúvida alguma, próprio dos Estados Unidos".
No vídeo publicado nas redes sociais, o chefe de Estado francês fala junto a bandeiras da França, da União Europeia e dos Estados Unidos.
"Quando, numa das democracias mais antigas do mundo, apoiantes do presidente cessante questionam com armas os resultados legítimos das eleições, estão a destruir uma ideia universal: 'um homem, um voto'", afirma Macron.
"Não vamos ceder perante a violência de poucos que querem questionar a democracia", sublinha.
Macron demonstra "confiança na força da democracia norte-americana" assim como "amizade" para com o povo dos Estados Unidos evidenciando a solidariedade "na luta comum para que as democracias saiam fortalecidas".
We believe in democracy.#WeAreOne pic.twitter.com/dj3hs66KKn
- Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) January 7, 2021
Boris Johnson condena "cenas vergonhosas" no Capitólio
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, também condenou as "cenas vergonhosas" da invasão do Capitólio, em Washington, por manifestantes pró-Trump e apelou a uma transição "pacífica e ordenada" do poder para o democrata Joe Biden.
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"Cenas vergonhosas no Congresso americano. Os Estados Unidos são os defensares da democracia no mundo inteiro", escreveu o chefe do Governo do Reino Unido numa mensagem na rede social Twitter.
"É agora vital que haja uma transferência de poder pacífica e ordenada", acrescentou Boris Johnson.
Disgraceful scenes in U.S. Congress. The United States stands for democracy around the world and it is now vital that there should be a peaceful and orderly transfer of power.
- Boris Johnson (@BorisJohnson) January 6, 2021
Von der Leyen diz acreditar na "força da democracia" nos Estados Unidos
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse acreditar na "força da democracia" nos Estados Unidos, depois dos episódios desta quarta-feira.
"Acredito na força das instituições dos Estados Unidos e na democracia. A transição pacífica deve ser a base", escreveu Ursula von der Leyen, reagindo através da rede social Twitter às fortes tensões em Washington.
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Lembrando que Joe Biden foi o vencedor das eleições presidenciais de novembro passado, Ursula von der Leyen adiantou estar "ansiosa por trabalhar com ele enquanto o próximo Presidente dos Estados Unidos".
I believe in the strength of US institutions and democracy. Peaceful transition of power is at the core. @JoeBiden won the election.
- Ursula von der Leyen (@vonderleyen) January 6, 2021
I look forward to working with him as the next President of the USA. https://t.co/2G1sUeRH4U
Obama diz que violência no Capitólio é vergonha, mas não surpresa
O ex-Presidente dos Estados Unidos Barack Obama considerou que as violências no Capitólio eram "uma vergonha", mas não "uma surpresa", dado a atitude de Donald Trump e dos republicanos
"A história recordará as violências de hoje [quarta-feira] no Capitólio, encorajadas por um Presidente que mentiu incansavelmente sobre o resultado de uma eleição, como um momento de desonra e de vergonha para o nosso país", disse, em comunicado.
"Mas não seríamos verdadeiros se considerássemos estes acontecimentos uma surpresa total", acrescentou Obama, ao denunciar o "violento 'crescendo'" dos últimos meses, alimentado pela recusa dos republicanos em "dizer a verdade".
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Bush diz que incidentes no Capitólio foram dignos de uma "República das Bananas
O ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush criticou os responsáveis republicanos que alimentaram a "insurreição" no Capitólio, afirmando que a sua atitude é digna de uma "república das bananas".
"Os resultados das eleições são contestados apenas em repúblicas das bananas e não na nossa república democrática", afirmou o antigo chefe de Estado, num comunicado citado pela agência AFP.
George Bush (Republicano), que presidiu os Estados Unidos entre 2001 e 2009, manifestou-se "chocado com o comportamento irresponsável" de alguns líderes políticos republicanos desde as eleições e pela "falta de respeito" mostrada esta quarta-feira no Capitólio.
Governos da América Latina criticam ataque ao Capitólio
Na América Latina, governos de direita elogiaram a democracia atacada pela invasão ao Capitólio, enquanto governos de esquerda, contrários a Donald Trump, devolveram com ironia as críticas que historicamente receberam dos Estados Unidos quanto à falta de democracia nos seus países.
A primeira reação surgiu do Governo da Venezuela, liderado pelo Presidente Nicolás Maduro, cuja legitimidade é contestada por vários países.
"A Venezuela expressa preocupação com a violência na cidade de Washington, condena a polarização política e aspira que o povo norte-americano possa abrir um novo caminho rumo à estabilidade e à justiça social", publicou, nas redes sociais, o ministro dos Negócios Estrangeiros venezuelano, Jorge Arreaza.
Também o Presidente da Argentina, Alberto Fernández, aliado de Maduro, repudiou "a grave violência e ao atropelo ao Congresso" dos Estados Unidos.
"Confiamos numa transição pacífica, que respeite a vontade popular, e expressamos o nosso mais firme apoio ao Presidente eleito, Joe Biden", publicou Fernández nas redes sociais. Há cinco anos, a atual vice-Presidente argentina, Cristina Kirchner, recusou transferir o poder para o então chefe de Estado eleito Mauricio Macri e não foi ao Congresso para a cerimónia de transição.
O Chile, através de uma mensagem difundida nas redes sociais pelo Presidente Sebastián Piñera, indicou rejeitar "as ações destinadas a alterar o processo democrático nos Estados", ao mesmo tempo que condenou "a violência e a indevida interferência nas instituições constitucionais".
Piñera sublinhou que o "Chile confia na solidez da democracia norte-americana para garantir o império da lei e do estado de direito".
Numa mensagem quase idêntica, o Presidente da Colômbia, Iván Duque, também destacou a solidez das instituições norte-americanas.
"A Colômbia tem plena confiança na solidez das instituições dos Estados Unidos, assim como nos valores do respeito pela democracia e no império da lei partilhados pelos nossos países", disse.
Para Berensztein, o episódio no Capitólio é uma evidência das consequências do populismo que, no continente americano, afeta tanto a direita quanto a esquerda.
"Para aqueles que banalizam o populismo, essas são as consequências: a rotura da ordem institucional e a crise da cultura democrática. A força impõe-se sobre a lei e traduz-se numa perda da convivência civilizada com respeito e pluralismo", concluiu.
Rússia considera que democracia dos EUA anda à deriva
O presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros do Senado russo disse que a democracia norte-americana anda à deriva numa alusão direta aos problemas provocado pela invasão do Capitólio por apoiantes de Donald Trump.
"O partido que perdeu (Partido Republicano) tem razões mais do que suficientes para acusar os vencedores de falsificações. É evidente que a democracia americana 'anda de um lado para o outro'", disse Konstantin Kosatchev, em Moscovo.
Irão encara invasão do Capitólio como fragilidade da democracia ocidental
A democracia ocidental é "frágil e vulnerável" considerou o presidente iraniano Hassan Rohani criticando o "populismo", referindo-se aos apoiantes do chefe de Estado norte-americano que invadiram o Capitólio, em Washington.
"O que nós vimos ontem (quarta-feira) nos Estados Unidos e hoje mostra em que ponto a democracia ocidental vulnerável e frágil", disse Rohani numa declaração transmitida pela televisão oficial iraniana.
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