Da polarização à distribuição dos votos, os candidatos e os seus apoios, os resultados e as expetativas em relação à Administração Trump 2.0. Tudo, de A a Z, a partir de Washington.
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A
América - dividida e polarizada chegou às eleições e assim continua, apesar da promessa de Kamala de transição pacífica de poderes, como é próprio das democracias. Trump não o fez em 2020 e ainda foi recompensado por isso, menos de quatro anos depois, nas urnas.
B
Biden - sai em breve de cena e o país muito lhe deve por tão longa e valiosa carreira política, mas não constituiu ajuda para a sua vice. 80% dos americanos entendiam que o país estava a ir na direção errada. Na última semana de campanha, a gaffe da referência aos apoiantes de Trump como lixo (ainda que posteriormente desmentida ou corrigida) não foi mais que um prego no caixão democrata.
C
Casa (House) ou Câmara dos Representantes no Congresso dos EUA. Ainda não está decidido mas os republicanos devem manter a maioria reforçando a sua presença. O desfecho pode demorar dias, há corridas a ser decididas em todo o país, desde as duras disputas em Nova Iorque até à Califórnia.
D
Democratas - Voltarão a apostar numa mulher algum dia para a Casa Branca? Esperando que à terceira possa ser de vez após Hillary 2016 e Kamala 2024. Entretanto, líder precisa-se. A não ser que Harris decida continuar por aí. Mas certamente que, desta vez, terá concorrência.
E
Eleições - Menos emocionantes do que se esperava, mas. ainda assim, foi uma noite longa para se chegar ao desfecho que cedo se previu. Acabar com o colégio eleitoral seria um avanço considerável. O sistema remonta ao tempo dos Pais Fundadores. Nos últimos 200 anos, foram apresentadas mais de 700 propostas no Congresso para reformar ou eliminar o Colégio Eleitoral. Houve mais propostas de emendas constitucionais sobre isso do que sobre qualquer outro assunto.
F
Fronteira. O assunto mais presente no discurso de Trump. O peso do dossié sobre os ombros de Kamala, que o gerou de forma confusa. Teme-se o pior com Trump: um plano de deportação que, se levado por diante, pode significar a expulsão de mais de 15 milhões de indocumentados. E o colapso de economias como a do Nevada.
G
Gaza - quantos dos 400 mil árabes americanos do Michigan terão deixado de votar em Kamala por causa da política da Administração Biden/Harris para o Médio Oriente? Não se sabe. Mas os manifestantes pro Palestina marcaram presença no exterior da Howard University, a universidade “historicamente negra”, alma mater da presidente, onde acompanhou a traumática contagem de votos. E há, em permanência, manifestantes pró-Palestina acampados junto a uma das laterais da Casa Branca.
H
Howard. Universidade em Washington. Local de importância referida acima. No dia seguinte à eleição, Kamala Harris fez aí o discurso de derrota, sem “condeder nos ideais pelos quais lutámos” e avisando que a lealdade do povo “não é para com um presidente ou para com um partido, mas para com a Constituição”.
I
Inflação - Controlada. Mas é como se não estivesse. Chegou a ser o triplo, 9,2%, do que é actualmente. A Administração Biden/Harris deixa uma economia pujante, pleno emprego e inflação pouco acima dos 3%, mas o bolso das famílias sente-o de forma diferente.
J
JD Vance - Trump fez bem em trazê-lo para o púlpito do discurso na hora do triunfo. Foi importante na campanha, desde logo ao vencer o debate com Tim Walz, o candidato a vice democrata. É qualificado, duro, mente com facilidade. Ingredientes para o sucesso no partido republicano atual. E na primeira linha da sucessão ao chefe em 2028. Se se aguentarem mutuamente até lá.
K
Kamala - Será responsável ou a menos culpada da hecatombe democrata? Em 100 dias poderia fazer mais contra quem estava em campanha desde há mais de três anos? Não lhe arranjaram alguém que a ajudasse a falar com o eleitorado branco menos qualificado e não lhe disseram que não era momento para as chamadas políticas fraturantes estarem no centro da ação e agenda políticas? E o que fica depois do belo discurso de dez minutos em Howard?
L
Latinos - Se dúvidas houvesse, deram a prova de que as comunidades não são blocos monolíticos, de gente que pensa toda o mesmo. Aqui, Trump ganhou 54-44 entre os homens. Apesar das ameaças de deportação em massa.
M
Musk - Ja se sabia não propriamente muito adepto da democracia, apesar de bradar contra aqueles que “querem roubar a liberdade de expressão”. Expressão máxima do empresário de sucesso, ganhou lugar, por direito próprio e parece ficar lá muito bem, no círculo próximo de Trump. Andou a dar 1 milhão de dólares por dia a eleitores ‘amigos’. É para quem pode.
N
Nevada - o que será da economia de um estado, nos decisivos estados da construção, hotelaria, restauração e jogo, em que 1 em cada dez trabalhadores são imigrantes em situação ilegal? Quando os donos dos casinos telefonarem para a Sala Oval, Trump acaba com os planos de deportação. “Follow the Money”, diria o Garganta Funda do Watergate.
O
ONU - Guterres expressou o desejo de poder “trabalhar de maneira construtiva” com Donald Trump, de modo a “enfrentar os desafios dramáticos do nosso mundo". As relações entre a ONU e os EUA foram complicadas duramte o primeiro mandato de Donald Trump, entre 2017 e 2020.
P
Pensilvânia - Afinal não foi tão lenta a contar e anunciar (vitória de Trump) quanto se esperava. Teria decidido diferente se, no ticket democrata, tivesse estado o governador Josh Shapiro?
Q
Q-Anon. Já não se fala deles como em 2016. Entretanto, chegaram ao poder e agora voltam. Como será a nova fase da desinformação e negacionismo?
R
Republicanos. O partido que deixou de existir nos seus termos e valores conservadores tradicionais mas que voltou a ser vencedor, num processo de perda de identidade e ganho de representatividade.
S
Senado - Republicanos reconquistam maioria na câmara alta do Congresso. A atual presidente do órgão, Kamala Harris, irá, como é de lei, validar os resultados da sua própria derrota.
T
Trump - A capacidade de resiliência de um homem, Trump, o 47º presidente, que há três anos parecia politicamente morto e que, apesar das condenações judiciais e dos processos ainda em curso, consegue o apoio da maioria dos americanos. A forma como um discurso divisivo, assumidamente vingativo, racista, consegue valer, ser adotado pelos eleitores. Quem pensa que Donald Trump vai moderar mais um discurso é melhor tirar o cavalo da chuva. O agora presidente eleito, ao longo de mais de um ano de declarações, delineou uma agenda abrangente que mistura abordagens conservadoras tradicionais em matéria de impostos, regulamentação e questões culturais, com uma tendência mais populista no comércio e uma mudança no papel internacional dos EUA.
U
Unidos - Em que estado estão os 50 estados, após um processo eleitoral tão desgastante, com um quadro político tão polarizado? Veem-se as televisões locais e constatamos as preocupações dos analistas mais sensatos ao dizer que agora “é tempo de sarar as feridas”.
V
Vladimir Putin - Terá brindado com vodka ou champagne ,apesar da sanções? Trump prometeu resolver a guerra na Ucrânia em 24 horas. Gosta do presidente russo. O resto negoceia-se.
W
Wisconsin – Um dos exemplos de estados oscilantes, pêndulo, swing, decisivos, que podia ser para Kamala Harris ou para Donald Trump. Deram vermelho.Tal como os outros seis: Pensilvânia, Michigan, Geórgia, Carolina do Norte, Nevada e Arizona.
X
X Cromossoma. Mulheres. 54% das mulheres votaram Kamala Harris. Tinham sido 57% com Biden. As mais jovens, com menos de 30 anos de idade, só representaram 7% do universo dos eleitores.
Y
Y Cromossoma. Homens. O grande trunfo de Trump. Eles votaram nele. 62%, especialmente os rapazes, primeiros eleitores.
Z
Zelensky. O Presidente ucraniano felicitou Donald Trump pela vitória, desejando que ajude a conseguir a “paz através da força” (frase de Reagan). A questão é que provavelmente Donald Trump vai dar mais força a Vladimir Putin para levar por diante os seus planos e não vai propriamente dar força à Ucrânia através da continuação da ajuda militar.