As análises das agências internacionais vão todas no mesmo sentido. O debate entre Sarkozy e Hollande, o único antes da segunda volta das presidenciais, foi tenso mas sem um vencedor.
Corpo do artigo
O sorteio ditou que fosse François Hollande o primeiro a falar e o candidato da esquerda entrou ao ataque. Hollande disse que os privilegiados já foram muito protegidos e prometeu ser o presidente da Justiça, e apontou o dedo a Sarkozy falando de uma política promotora da divisão.
«Durante muitos anos os franceses estiveram de costas voltadas, uns e outros divididos e por isso quero reuni-los porque considero que precisamos de toda a força da França. É assim que recuperamos a confiança. Ela é indispensável à ação pública, confiança na presidência, nos políticos, numa visão, numa ideia de nós próprios. É o que nos permite avançar», afirmou.
Sarkozy começou pela acusação do adversário e recusou o cenário de uma França dividida.
«Durante cinco anos tive sempre um objetivo: que não houvesse violência; e fiz reformas extremamente difíceis, como a das pensões. Houve manifestações mas foram pacificas, ninguém se sentiu humilhado. Não houve divisões, não houve motins, não houve violência. A França nestes quatro anos de crise avançou com um movimento continuo de reformas sem qualquer bloqueio», afirmou.
«Quero dizer-lhe uma coisa, senhor Hollande, isso deixa-me orgulhoso. Há os que falam da união e há os que as promovem», acrescentou Sarkozy.
O tom manteve-se tenso durante todo o debate, com várias trocas de acusações. Hollande prometeu restabelecer o imposto sobre as fortunas, Sarkozy respondeu que dizer que esse imposto não existe é uma mentira, uma calúnia.
O candidato da direita recorreu várias vezes à expressão «mentira», o que provocou momentos de acesa discussão.
As diferenças no plano europeu também foram polémicas. Hollande defendeu os "eurobonds" como uma solução para a crise, Sarkozy mostrou-se contra, dizendo que quem vai acabar por sair prejudicado serão a França e a Alemanha, e acusou mesmo o adversário de não conhecer bem a Europa.
Mas foi a questão da imigração que fez "estalar o verniz" entre os dois candidatos, quando Hollande referiu a intenção de dar o direito de voto aos estrangeiros não europeus nas eleições municipais. Sarkozy fez a primeira referência no debate ao Islamismo.
«Porque é que supõe que os estrangeiros não europeus são muçulmanos? Porque é que diz isso? O que é que lhe permite dizer que os que não são europeus são muçulmanos?», questionou Hollande.
Nicolas Sarkozy ripostou que a primeira comunidade estrangeira em França é a argelina, seguida da tunisina, marroquina e maliana.
«A Argélia é muçulmana, Marrocos é essencialmente de religião e confissão muçulmana, o rei é mesmo o comandante dos crentes, e a Tunísia é semelhante», referiu.
Sarkozy salientou o que disse ser a necessidade de um Islão da França e não na França.
«Se dermos o direito de voto aos imigrantes, com a pressão de algumas comunidades que conhecemos hoje, e que você tal como eu denunciamos, então assistiremos a reivindicações. Horários diferenciados para mulheres e homens nas piscinas, menus separados nas cantinas municipais, médicos diferenciados para homens e mulheres», destacou.
A imigração acabou mesmo por ser um dos temas que ocupou mais tempo, num debate que durou 2h30 e terá sido visto por mais de 20 milhões de telespectadores só em França.