O ativista Ilham Tohti foi condenado a prisão perpétua em 2014 sob a acusação de "separatismo" na China.
Corpo do artigo
O Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2019, foi atribuído pelo Parlamento Europeu a Ilham Tohti, um ativista dos direitos da minoria uigure na China.
Ilham Tohti é um conhecido defensor dos direitos humanos uigure, professor de economia e defensor dos direitos da minoria uigure chinesa. Durante mais de duas décadas trabalhou incansavelmente para promover o diálogo e a compreensão entre uigures e chineses. Em resultado do seu ativismo, foi condenado, em setembro de 2014, a uma pena de prisão perpétua após um julgamento-fantoche de dois dias. Apesar do que sofreu, continua a ser uma voz da moderação e da reconciliação.
"[Tohti] empenhou-se muito para melhorar a compressão dos uigures na China. O Parlamento Europeu expressa todo seu apoio ao seu trabalho e quer que seja imediatamente libertado pelas autoridades chinesas", declarou o presidente da assembleia europeia, David Sassoli, ao anunciar o vencedor.
Entre os finalistas deste galardão estavam também três ativistas brasileiros: Marielle Franco, defensora brasileira dos direitos humanos, nomeadamente da comunidade negra, das mulheres e das pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans e intersexuais (LGBTI), que foi brutalmente assassinada em março do ano passado e que estava nomeada a título póstumo, a ambientalista Claudelice Santos e o líder indígena Raoni Metuktire.
Ilham Tohti é conhecido pela sua investigação sobre relações entre a população uigure e a população han e por defender de forma acérrima a aplicação das leis de autonomia regional na China. Foi também autor do Uyghur Online, um sítio Web que discute questões uigures. Nesta plataforma, Ilham Tohti criticou regularmente a exclusão da população uigure chinesa do desenvolvimento do país e incentivou uma maior sensibilização para o estatuto e o tratamento da comunidade uigure na sociedade chinesa. Por estas ações, Ilham Tohti foi declarado um «separatista» pelo Estado chinês e, subsequentemente, condenado a uma pena de prisão perpétua.
Pelo seu trabalho em circunstâncias adversas, Ilham Tohti recebeu o Prémio PEN/Barbara Goldsmith Freedom to Write (2014), o Prémio Martin Ennals (2016) e o Prémio para a Liberdade da Internacional Liberal (2017). Ilham Tohti foi nomeado para o Prémio Nobel da Paz de 2019.
Nos últimos anos os uigures sofreram uma repressão sem paralelo por parte do Governo chinês, devido à sua identidade étnica e às suas crenças religiosas únicas. Desde abril de 2017, mais de 1 milhão de uigures inocentes foram detidos arbitrariamente numa rede de campos de internamento, onde são forçados a renunciar à sua identidade étnica e às suas convicções religiosas e a jurar fidelidade ao governo chinês.
O caso de Ilham Tohti coloca questões cruciais a nível internacional e preocupações ligadas ao respeito pelos direitos humanos: a promoção de valores islâmicos moderados face à repressão religiosa estatal; os esforços para abrir o diálogo entre uma minoria muçulmana e uma população maioritariamente não muçulmana; e a supressão da dissidência não violenta por um Estado autoritário.
Todos os anos, desde 1988, o Parlamento Europeu atribui o Prémio Sakharov (assim chamado em homenagem ao dissidente soviético Andrei Sakharov) a pessoas ou organizações que se destacam na defesa dos direitos humanos e das liberdades fundamentais.
Com Lusa