O processo de destituição entra, esta quarta-feira, numa nova fase. Horas depois de divulgado o relatório da comissão dos serviços secretos do congresso a discussão passa para a comissão de justiça.
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Adam Schiff o congressista democrata e presidente da comissão de serviços secretos divulgou o relatório final dos dois meses de audições. O documento com 300 páginas é um roteiro para os artigos da constituição que podem levar ao afastamento de Trump. O congressista diz que o presidente é uma ameaça imediata e futura à segurança nacional, à Constituição e à resiliência da própria democracia. "Devemos preocupar-nos com isto porque se não o fizermos podemos ter certeza de que o presidente voltará a fazê-lo", afirmou Schiff.
O congressista não tem dúvidas, o processo de destituição de Trump tem pernas para andar. A comissão de justiça começa, esta tarde, os trabalhos ouvindo a opinião de quatro constitucionalistas: Noah Feldman, Pamela Karlan, Michael Gerhardt e Jonathan Turley que vão explicar as ações que, à luz da constituição, podem levar ao afastamento de um presidente dos Estados Unidos. Três dos peritos foram escolhidos pelos democratas, que estão em maioria no congresso, e um pelos republicanos.
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A passagem do processo para a comissão de justiça vai marcar a entrada em ação de alguns dos mais fervorosos apoiantes do presidente Trump. Matt Gaetz e Greg Steube são dois republicanos da Florida que estiveram no grupo que invadiu a sala onde se estavam a realizar audições à porta fechada, na comissão de serviços secretos. Os 20 representantes republicanos foram muito criticados por interromperem os trabalhos, mas principalmente por terem levado os telemóveis para um espaço onde as agências de espionagem de diversos países gostariam de poder entrar.
Nesta fase dos trabalhos o presidente tem direito a defender-se, mas tanto Trump como os advogados já disseram que não vão estar presentes nas audições. O presidente considera que todo o processo é uma fraude criada por democratas que ainda não aceitam a ideia de ele ter sido eleito em 2016. Donald Trump queixa-se ainda do facto de as novas audiências se realizarem quando ele está em Londres para a cimeira da NATO.
Também esta semana os republicanos publicaram um relatório em que defendem a ação de Trump e que pretende ser uma resposta ao de Adam Schiff. Os republicanos dizem que as ações do chefe de estado são totalmente justificáveis tendo em conta a preocupação dele em relação à corrupção na Ucrânia. Os republicanos, e a Casa Branca, acreditam que Kiev interferiu no processo eleitoral de 2016 ao serviço de Hillary Clinton.
Todo este caso de afastamento começou com alguém, cuja identidade não é conhecida, a denunciar a atuação de Trump numa conversa telefónica com o presidente ucraniano. Donald Trump terá feito depender a entrega de ajuda financeira ao país do anúncio da abertura de uma investigação judicial ucraniana ao filho de Joe Biden. Um caso claro de "Quid Pro Quo" dizem os democratas, uma tentativa de combater a corrupção na Ucrânia, dizem os republicanos.
Nas audições perante a comissão dos serviços secretos pelo menos dois embaixadores confirmaram as suspeitas democratas. Marie Yovanovitch, a antiga embaixador dos Estados Unidos em Kiev, acusou o advogado de Donald Trump, Rudi Giuliani, de ter desencadeado uma campanha para a afastar do cargo, o que viria a acontecer. Marie Yovanovitch atribuiu essa campanha ao facto de ela ter sido uma defensora do combate à corrupção na Ucrânia, o que teria irritado alguns interesses poderosos.
Outro embaixador, Gordon Sondland, que representa os Estados Unidos na União Europeia e que foi um dos grandes financiadores da campanha de Trump, confirmou que o Presidente ordenou ele próprio a pressão sobre o presidente Zelenskyi, pressão para que Kiev investigasse as ações de Hunter Biden, filho de Joe Biden, quando este ocupava a vice-presidência da empresa de gás ucraniana Burisma. Sondland disse que a pressão não era segredo, "todos sabiam", acrescentou. O embaixador envolveu em todo este caso o vice presidente Mike Pence, o secretário de estado Mike Pompeo e o advogado Rudi Giuliani.
Os republicanos argumentam que o dinheiro já foi entregue à Ucrânia, os democratas lembram que isso só aconteceu depois de a Casa Branca ter conhecimento da existência de uma denúncia.
Na história dos Estados Unidos só por três vezes se realizaram processos de destituição e apenas um foi bem sucedido. Andrew Johnson foi destituído do cargo em 1868 por ter violado uma lei que impedia o chefe de estado de estado de afastar alguns dos mais altos funcionários do país. Em 1974, Richard Nixon renunciou ao cargo para evitar um processo por causa do envolvimento no escândalo de Watergate. Por fim em 1999 os republicanos quiseram afastar Bill Clinton por ter mentido quanto a um envolvimento sexual com a estagiária Monica Lewinsky. O processo foi arquivado pelo Congresso.