A nova etapa servirá para negociar tudo, em matéria de comércio, pescas, cooperação universitária - no caso do Erasmus, que deverá continuar aberto aos estudantes britânicos -, segurança interna e política externa.
Corpo do artigo
Em Estrasburgo, Michel Barnier apresentou esta terça-feira as diretrizes para as discussões com o Reino Unido, sobre a relação futura de Londres com o bloco europeu.
TSF\audio\2020\02\noticias\11\joao_francisco_guerreiro_12h
"Nada será como dantes", por muito que possa ser alcançado com um acordo de comércio. É a ideia expressa pelo negociador europeu e também para a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen. Na apresentação aos deputados de Estrasburgo, Barnier não escondeu as preocupações face à complexidade das negociações para fechar num tempo recorde.
O aviso do negociador chefe é o de que é preciso tempo até à conclusão das discussões para acomodar a mudança de estatuto do Reino Unido e "o relógio está a contar". O alerta não é propriamente novo, mas agora ganha um novo sentido, uma vez que o Brexit está consumado.
Até aqui, no bloco europeu, repetiram-se os alertas, para que o Governo britânico não deixasse de solicitar a extensão do período de transição, durante o qual, ainda integra o Mercado Único e a União Aduaneira.
A expectativa em Londres é de que a 1 de janeiro possa ser concluído um acordo comercial para regular a relação futura com a União Europeia. Até lá terá de concluir-se uma negociação que "normalmente" leva anos.
"Quando negociámos com o Canadá, ou com o Japão, tentámos aproximar-nos, convergir. Demos tempo às negociações. Um ano, dois anos. No caso do Canadá, levou sete anos", lembrou o negociador Michel Barnier, vincando que "enquanto esperamos por um acordo, mantém-se a conjuntura".
A nova etapa consiste em negociar tudo, em matéria de comércio, pescas, cooperação universitária - no caso do Erasmus, que deverá continuar aberto aos estudantes britânicos -, segurança interna, política externa, são alguns dos exemplos.
No caso do Reino Unido restam, porém, escassos meses para fechar as negociações que só hão de iniciar-se em março, terão de estar concluídas no outono, sendo que pelo meio há o período de pausa das instituições, durante o mês de agosto. O tempo é, sem dúvida, escasso, mas "tratou-se de uma escolha do Reino Unido", apontou Barnier, sem deixar de sublinhar que há o risco de no final do ano as negociações não terem sido fechadas, e a conjuntura não poderá ser a mesma.
"Nesse dia, 31 de dezembro de 2020, o Reino Unido sai do Mercado Único e da União Aduaneira e regressará ao quadro da Organização Mundial do Comercio", afirmou já perto do final do debate em Estrasburgo,
"O Brexit fará com que o Reino Unido perca o passaporte financeiro, que não haja reconhecimento mútuo. Fará com que, por hipótese, tenhamos que impor, no dia 1 de janeiro, controlos sobre todos os produtos que entrem no mercado único, como fazemos para todos os outros países terceiros do mundo", admitiu.
No Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson diz-se disposto a fechar um acordo com a União Europeia semelhante ao acordo de comércio com a Austrália. Mas, a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, não esconde a surpresa, pois tal acordo, simplesmente, "não existe" em Bruxelas.
"A Austrália é sem dúvida um parceiro forte e harmonioso. Mas a União Europeia não tem um acordo comercial com a Austrália. Negociamos atualmente nos termos da Organização Mundial do Comércio", disse Von der Leyen.
"Francamente, isto é música para os nossos ouvidos", afirmou a presidente da Comissão com acutilante ironia, referindo-se à promessa de Boris Johnson de tornar o Reino Unido no campeão do comércio livre.
No dia 31 de janeiro, o Reino Unido cortou os laços de 47 anos de integração comunitária. Dois dias antes, o acordo - cozinhado durante mais de dois anos - foi finalmente aprovado pelos eurodeputados, num debate emocionado, em que não faltaram lágrimas. O texto foi aprovado com 621 votos a favor, 49 contra e 13 abstenções.