Iniciativa arranca precisamente 700 anos depois da morte de Dante, que cumpriu a pena em setembro de 1321.
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Um descendente de Dante Alighieri quer limpar o cadastro do poeta italiano, 700 anos depois da sua morte: o autor da Divina Comédia foi acusado de corrupção e, mais tarde, condenado à morte na fogueira. Por acreditar que se tratou de um julgamento político, Sperello Alighieri, astrofísico, promete tentar limpar a imagem do seu familiar.
Corria o ano de 1301. Chegava ao fim uma época em que a cidade de Florença esteve fortemente dividida, com a fação branca de um lado e, do outro, a negra. A vitória sorriu a estes últimos e, porque Dante era apoiante da causa dos brancos, a justiça - alegada - não tardou.
Primeiro, chegou em forma de multa: foram cinco mil florins, dois anos de degredo e o impedimento de ter cargos públicos até ao fim dos seus dias. Um ano depois, Dante devia ter-se apresentado em tribunal, mas faltou ao julgamento e, mesmo ausente, foi condenado à morte. A pena foi cumprida em setembro de 1321.
O familiar do poeta quer demonstrar que corrupto foi o sistema que condenou Dante. Em entrevista ao jornal italiano Corriere Della Sera, afirma que o julgamento foi político, que o degredo e a pena a que Dante foi condenado são injustas e que, ao contrário do que se passou com Galileu Galilei, nunca foram anuladas.
Agora, Sperello diz ter chegado o tempo, pelo que, se as leis o permitirem, vai pedir uma revisão da condenação. O jornal italiano diz que é possível: a sentença pode ser revista caso apareçam novas provas que ilibem o condenado e não há limite de tempo para que esse pedido seja feito, mesmo que já tenham passado sete séculos.
A única condição é a de que o pedido parta de um herdeiro do acusado, pelo que Sperello Alighieri está, em colaboração com um professor de Direito, a avançar com a empreitada.
O primeiro simpósio sobre o tema está marcado para maio e há especialistas de várias áreas convidados. Um deles é Antonio de Gabrielli, descendente de Gabrielli da Gubbio, o juiz que condenou Dante.