No último mês, intensificaram-se os combates entre o exército e as milícias Rohingya. Em três semanas, 270 mil Rohingya fugiram do país. É o segundo Nobel da Paz a criticar a dirigente birmanesa.
Corpo do artigo
Por causa da situação na Birmânia, Desmond Tutu quebrou o silêncio a que se tinha remetido.
Perante as imagens de sofrimento dos refugiados, o prémio Nobel da Paz escreveu uma carta aberta a Aung San Suu Kyi. O arcebispo emérito sul-africano diz que não pode ficar calado face ao que se está a passar.
TSF\audio\2017\09\noticias\08\margarida_serra_17h
Na missiva, Desmond Tutu diz que sempre a viu como alguém que se destaca pelos valores morais e confessa que durante anos teve uma fotografia dela na secretária para se lembrar dos sacrifícios e injustiças que sofreu em nome do povo birmanês. Diz também que, em 2010, quando ela foi libertada, o dia ficou mais radioso e em 2012 celebrou quando foi eleita líder da oposição.
https://www.facebook.com/DesmondTutuOfficial/posts/1136360939841237
Desmond Tutu reconhece que o facto de Suu Kyi regressar à vida pública o deixou mais descansado em relação à violência que era exercida sobre os Roynghya, mas rapidamente se viu que o problema não foi resolvido, pelo contrário intensificou-se.
O arcebispo, que se destacou na luta contra o Apartheid, diz a Aung San Suu Kyi que se o preço a pagar pela ascensão ao mais alto cargo da Birmânia é o silêncio, então é muito elevado.
"Um país que não está em paz consigo próprio e que falha na obrigação de respeitar e proteger a dignidade de todo o povo, não é um país livre", escreve Desmond Tutu, que acrescenta que "é incongruente que um símbolo de retidão lidere um país assim".
O arcebispo emérito recorda à chefe da administração civil birmanesa que apesar de os seres humanos parecerem diferentes e poderem rezar a deuses diferentes, ninguém nasce superior ou inferior, e se rasparmos por baixo da pele somos todos iguais. A discriminação, lembra Desmond Tutu, não surge naturalmente, é ensinada.
O Nobel da Paz, prémio que também foi atribuído a Suu Kyi, acaba a carta apelando à responsável birmanesa para que volte a ser corajosa e resistente.
Diz que está a rezar para que ela fale a favor da justiça, direitos humanos e da unidade do povo. Que intervenha nesta crise dos Rohiyngya e guie o povo birmanês de novo para o caminho da retidão.
Desmon Tutu não é o primeiro Nobel a criticar publicamente Aung San Suu Kyi. Na segunda-feira, Malala Yousafzai disse que "o mundo está à espera" que Suu Kyi faça qualquer coisa para acabar com a situação insustentável dos Rohingya. "Cada vez que vejo as notícias, o meu coração parte-se", escreveu a ativista paquistanesa no Twitter.
904449772844711938