Investigadora do ISCTE considera que detenção de Ismael da Silva pode enviar sinais a outras ex-figuras de Estado de Angola e até de outros países africanos.
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O presidente da Fundação Eduardo dos Santos, Ismael Diogo da Silva, foi esta tarde detido, em Luanda, por suspeitas de recebimento indevido de milhares de dólares.
Ana Lúcia Sá, especialista em Assuntos Africanos e investigadora do ISCTE, considera que esta detenção é mais um sinal da luta contra a corrupção e impunidade travada por João Lourenço, o presidente de Angola.
"Há um crescendo de nomes sonantes entre as pessoas detidas", destaca a investigadora que considera que este é um sinal claro de que João Lourenço que fazer um "corte com o passado".
Sobre se as detenções vão, ou não parar por aqui, Ana Lúcia Silva defende que é presumível que não, até porque estas detenções são "sinais claros contra a corrupção e contra práticas menos próprias".
Os sinais não podem, no entanto, parar por aqui e para isso é preciso que existam "políticas mais sustentadas" para que Angola saia do estado em que se encontra.
João Lourenço precisa de continuar a dar sinais de que é "de facto, diferente", sem perder de vista as eleições autárquicas angolanas de 2020, que vão ser um "teste muito forte ao atual presidente e ao estado do seu partido, o MPLA".
Esta detenção de Ismael da Silva é a segunda desta semana, depois de "Zenú", filho do antigo presidente José Eduardo dos Santos, ter sido também capturado.
"É impactante, é sinal de que nem toda a gente está livre de ir preso, a impunidade pode não reinar e algo pode mudar para substancialmente melhor", defende Ana Lúcia Sá.
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Detenção de "Zenú" teve impacto em África
De outros países africanos, principalmente os que têm contexto de autoritarismo, chegaram sinais de preocupação, principalmente porque as figuras ligadas ao Estado poderiam sentir que "deixariam de beneficiar de todos os seus recursos".
"É sinal de uma mudança política real, mas também de que a impunidade acabou", conclui.