"Devemos recear sempre." Amnistia Internacional preocupada com limitação de direitos e liberdades na Europa
Relatório concluiu que um quinto da população mundial viu os seus direitos políticos e liberdades civis mais limitados no ano passado.
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A Amnistia Internacional defende que o relatório do grupo de reflexão Freedom House é um alerta que deve ser tido em conta. De acordo com o documento, um quinto da população mundial - 52 países - viu os seus direitos políticos e liberdades civis mais limitados no ano passado.
Nesta área só se registaram melhorias em 21 países. Portugal mantém a mesma posição: 96 pontos em 100. No Fórum TSF, Pedro Neto, o diretor executivo da Amnistia Internacional, alerta para sinais de preocupação na Europa.
"A Hungria, a Estónia. Também me atrevia a referir o discurso de ontem de von der Leyen no Parlamento Europeu sobre armamento. O discurso político também tem que ser um discurso de diplomacia, de negociação, de paz e sabemos bem, na história recente da humanidade, o que esta postura de vamo-nos armar, vamos defender, vamos reabilitar a economia através da indústria militar deu", lembrou na TSF Pedro Neto.
Questionado sobre se devemos recear um passo atrás no que respeita aos direitos humanos, Pedro Neto defende que é preciso estar atento.
"Devemos recear sempre porque nada está garantido. Os direitos humanos, a paz, a civilização são algo pelo qual temos que trabalhar todos os dias e não tomar nada por garantido. E temos também que estar atentos e não abdicarmos da nossa participação cívica, não abdicarmos da nossa própria participação política. Os políticos são cidadãos, não é uma realidade à parte e, portanto, o direito a eleger e a ser eleito é para todas as pessoas. Atrevia-me mesmo a dizer que as pessoas fazem falta aos partidos políticos e os partidos políticos, esse lugar de exercício de concorrência de ideias, são compostos por pessoas e eles precisam de toda a gente, não podem ser estruturas fechadas nem em Portugal nem em lado nenhum", explicou o diretor executivo da Amnistia Internacional.
Já Paulo Sande, especialista em assuntos europeus, avisa que as democracias mundiais continuam ameaçadas por radicalismo, à direita e à esquerda, e explicou porque é que isto acontece.
"Os partidos tradicionais, partidos democráticos, terem falhado nos últimos anos de alguma forma e isso também ser uma causa para emergência, para o surgimento e para o crescimento destes partidos populistas ao terem feito assumir determinado tipo de causas, determinado tipo de problemas, de os enfrentar. E porque é que esses problemas são importantes? Porque são muitas vezes problemas que as pessoas sentem e são a causa do crescimento desses partidos. É uma das razões do populismo, de facto, o medo e o descontentamento por parte de um crescente de pessoas, mas sempre com base no receio, em particular, relativo à sua situação económica e também outras questões de natureza social, mas há sempre esse receio. Os partidos populistas cavalgam essas ondas. A armadilha é o facto de os partidos terem de o fazer sob pena de outros tomarem essas causas como suas", afirmou Paulo Sande.
Perante este tema, o presidente do Sindicato dos Jornalistas, Luís Simões, lembra a diretiva que o Parlamento Europeu aprovou esta semana para proteger os jornalistas contra ações judiciais abusivas e defendeu que é uma prova de que o jornalismo não tem sido bem tratado.
"É uma evidência hoje que os poderes políticos, os poderes que executam não têm cuidado do jornalismo. Há, creio eu, uma maior preocupação das instituições europeias em atalharem o caminho, a serem rápidas agora a protegerem o jornalismo percebendo que a contaminação da desinformação pode ser decisiva para se corroerem todos os pilares da democracia. Acredito que é urgente, é fundamental que esse caminho seja também feito pelos poderes em Portugal, porque senão vai ser tarde demais e sem jornalismo não teremos mesmo democracia", alertou Luís Simões.
