Nigerianos estão a sair às ruas para contestar as prisões arbitrárias, torturas e assassínios da polícia da Nigéria.
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A Amnistia Internacional (AI) declarou, esta quarta-feira, que dezenas de pessoas poderão ter morrido na última noite durante os protestos contra a atuação policial na Nigéria. O centro das manifestações situou-se no Estado de Lagos, onde se encontra a cidade homónima, a maior cidade de África e o coração económico da Nigéria, onde as autoridades na terça-feira impuseram um recolher obrigatório para conter as manifestações.
A decisão foi tomada depois de Lagos ter vivido mais um dia de protestos promovido pelo #EndSARS (Acabar com o SARS), movimento que conseguiu chamar a atenção internacional para as acusações de prisões arbitrárias, torturas e assassínios da unidade especial antirroubo (SARS, em inglês) da polícia nigeriana, que já foi, entretanto, dissolvida.
Segundo a secção nigeriana da AI, na noite de terça-feira, várias pessoas foram mortas por ações das forças de segurança numa zona de portagem da localidade de Lekki, na região da cidade de Lagos.
"A Amnistia Internacional recebeu evidências confiáveis, mas alarmantes, de que o uso excessivo da força levou à morte de manifestantes na portagem da localidade de Lekki", publicou a organização não-governamental dos direitos humanos na sua conta na rede social Twitter.
"Enquanto continuamos a investigar as mortes, a Amnistia Internacional gostaria de lembrar às autoridades que, segundo o direito internacional, as forças de segurança só podem usar a força letal quando estritamente inevitável para se proteger contra uma ameaça iminente de morte ou ferimentos graves", indicou a organização.
Testemunhas citadas pelo jornal "Premium Times" garantiram que pelo menos sete pessoas morreram naquela área depois de o exército ter disparado contra os manifestantes, que haviam violado o recolher obrigatório, que entrou em vigor às 16h00 (horário de Lisboa) de terça-feira e deveria durar, em princípio, 24 horas.
O jornal "The Punch", também citando testemunhas oculares, indicou que 29 pessoas (27 civis e dois polícias) morreram em Lagos.
Os protestos também ocorreram em Abuja (capital federal da Nigéria) e em Estados como Kano (norte), Oyo (sudoeste), Ogun (sudoeste) ou Plateau (centro).
Segundo o jornal "The Punch", pelo menos 49 pessoas (43 civis e seis policiais) perderam a vida em todo o país, embora, mais uma vez, esses dados não tenham sido oficialmente confirmados pelas autoridades.
Os protestos atraíram a atenção de personalidades internacionais, como a ex-secretária de Estado dos EUA Hilary Cinton, que durante esta madrugada, na sua conta no Twitter, instou o Presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, a "parar de matar os jovens manifestantes do #EndSARS".
A cantora Rihanna também condenou a violenta repressão aos protestos no Twitter, e, nas últimas semanas, outras personalidades como o rapper Kanye West ou o cofundador do Twitter Jack Dorsey enviaram mensagens de apoio aos manifestantes por meio das redes sociais.
Após os protestos, o Governo nigeriano ordenou a dissolução da unidade antirroubo de elite no dia 11, uma diretiva que finalmente materializou as repetidas promessas do Presidente Buhari de acabar com a brutalidade policial e conduta antiética, das quais a SARS é acusada há anos.
A dissolução da unidade, porém, não parou os protestos, que evoluíram para um mal-estar geral da população contra as autoridades.