Afonso Dhlakama, presidente da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), recusou hoje o convite que lhe foi feito pelo Chefe do Estado, Armando Guebuza, para um encontro na capital moçambicana, invocando falta de condições.
Corpo do artigo
Em conferência de imprensa, o porta-voz da Renamo, Fernando Mazanga, invocou falta de condições para a reunião, exortando o Presidente da República a «ordenar imediatamente a cessação dos ataques e perseguições que o exército está a mover à figura do Presidente Dhlakama e dos seguranças da Renamo».
A reação da Renamo é a resposta a um comunicado divulgado pela Presidência da República, tornado público pelo seu porta-voz, Edson Macuácuá, e segundo o qual «o Presidente Armando Guebuza, no âmbito dos esforços contínuos empreendidos pelo Governo visando a preservação da paz» convidava o líder da oposição para um encontro em Maputo, na próxima sexta-feira.
Ainda segundo o comunicado do palácio presidencial, o encontro serviria «para auscultação das preocupações que apoquentam a Renamo», nomeadamente as tensões e o impacto dos recentes confrontos entre o exército nacional e os guerrilheiros da Renamo, sobretudo na zona centro do país, e os desentendimentos sobre a organização do processo eleitoral autárquico.
Aumentam os receios do regresso da guerra
Entre a população moçambicana têm vindo a aumentar os receios do regresso da guerra civil, sobretudo a partir do momento em que o exército atacou e ocupou, no passado dia 21 de Outubro, a sede da Renamo, em Sadjundjira, na Gorongosa, onde DhlaKama havia fixado o seu quartel general, desde que, há cerca de um ano, abandonou a cidade de Maputo em sinal de frontal oposição às políticas do Presidente Armando Guebuza.
Desalojado do seu acampamento na zona centro do país, o presidente do maior partido da oposição encontra-se em parte incerta, com os seus apoiantes a afirmarem desconhecerem o seu paradeiro. Na sequência do assalto do exército à sua base de apoio, Dhlakama tornou público um comunicado onde afirmava que havia perdido o controlo dos seus apoiantes e seguidores, indiciando assim o regresso das ações de guerrilha.
Efetivamente, a partir daquela operação militar têm-se sucedido ataques armados a camiões de transporte que circulam na principal via de ligação de Maputo à província de Sofala, nomeadamente na zona da Gorongosa, e bem assim alguns raptos de civis atribuídos a grupos armados da Renamo. Para evitar o pânico, o exército está a organizar escoltas aos transportes rodoviários da zona.
O mais preocupante para a população é que este tipo de ataques parece alastrar-se a outras zonas do país, sendo que entre as vítimas estão cidadãos estrangeiros, nomeadamente portugueses, como é o caso de uma gestora financeira raptada hoje por três homens armados na Matola, nos subúrbios da capital.
Campanha para as autárquicas faz crescer tensões políticas
Com o arranque da campanha eleitoral para as autárquicas, que se realizam no próximo dia 20 do corrente, crescem os receios de atentados e ações de guerrilha de bandos armados ligados à Renamo. Na disputa eleitoral estão em causa os presidentes e as assembleias de 53 municípios, mas o maior partido da oposição não apresenta qualquer candidatura, ameaçando boicotar o processo por discordância dos órgãos eleitorais.
A Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido governamental, tem dominado o mapa autárquico, presidindo a todos os municípios, com exceção das cidades da Beira e Quelimane, ambas governadas pelo MDM (Movimento Democrático de Moçambique). Apesar da tensão política existente, a Comissão Nacional de Eleições garante que o processo está em condições de se desenrolar normalmente.