Caso a mobilização desta segunda-feira seja um sucesso, os sindicatos recuperam uma posição de força para obter vantagens quanto aos próximos dossiers sociais
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Pela primeira vez desde 2009, todos os sindicatos convocaram ações para este dia do trabalhador. Os desfiles e mobilizações deste 1 de Maio vão ser acompanhados de perto pelo governo de Emmanuel Macron. Os sindicatos franceses prometem uma mobilização "histórica" para marcar "uma nova etapa" contra o aumento da idade da reforma em França, lei promulgada pelo presidente francês.
Pela primeira vez em mais de 20 anos, este é um primeiro de maio unido. Todas as confederações vão desfilar lado-a-lado na esperança de conseguir a maior mobilização desde 2002. Na altura 1,3 milhões de pessoas desceram às ruas, 400.000 em Paris. Em 2002, a irrupção de Jean-Marie Le Pen na segunda volta das presidenciais tinha suscitado um assalto cívico e uma maré humana nas ruas. Esta segunda-feira, os sindicatos não esperam conseguir os mesmos resultados, mas pretendem mostrar ao governo que a rejeição da reforma das pensões não desapareceu.
No espaço de dois anos, os três principais sindicatos franceses vão mudar de liderança. As mudanças começaram com a nova secretária geral da federação sindical, Sophie Binet, a primeira mulher a assumir a liderança da CGT. Uma escolha saudada pelos outros sindicatos e, segundo analistas, uma má notícia para o executivo francês, que apostou nas divisões da CGT, que mantém unida a frente sindical. "É a determinação de todas as organizações sindicais em ficar unidas e lado a lado que fez a nossa força e vai continuar a fazer", garante a nova líder da CGT.
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Mudanças que acontecem depois de um período delicado para os sindicatos franceses. Durante o primeiro mandato de cinco anos, Emmanuel Macron ignorou os parceiros sociais e as organizações de trabalhadores, mesmo que durante a pandemia tenha havido uma retoma do diálogo social. No segundo mandato, o chefe de Estado prometeu uma mudança de método e encontra, agora, novos interlocutores.
Nos próximos tempos, a união sindical dos últimos quatro meses pode ficar comprometida. "Não vamos parar enquanto a reforma das pensões não for retirada", as palavras de ordem de Sophie Binet. Mas os sindicatos reformistas deixaram de acreditar num possível recuo. Com 12 dias de mobilização, por vezes massivos, o texto foi promulgado há duas semanas. Não querem embarcar numa sucessão de acções selvagens e fechados num impasse. O governo diz querer abrir novas negociações com os sindicatos sobre a futura lei do trabalho, os desgaste profissional, a reconversão, um "pacto da vida laboral" prometido por Emmanuel Macron.
Impossível para organizações como CFDT e CFTC recusar o diálogo. Laurent Berger repete que vai continuar a fazer o seu trabalho de sindicalista, discutir para obter "melhores condições para os trabalhadores". No entanto, o líder da CFDTP pediu o tempo de algumas semanas, um prazo de 100 dias estipulados pelo governo que quer acalmar os protestos sociais.
Caso a mobilização desta segunda-feira seja um sucesso, os sindicatos recuperam uma posição de força para obter vantagens quanto aos próximos dossiers sociais e para que o governo de Emmanuel Macron pague o preço pela obstinação da reforma das pensões.